sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A verdadeira autoridade

Ao colocar o primeiro pé dentro da Fanor, fiquei abismada. Uma estrutura razoavelmente grande que, além das arquibancadas de concreto, dispunha de dezenas e dezenas de cadeiras dispostas a céu aberto, enfileiradas em frente a um palco com uma confortável poltrona e água em uma taça de cristal.
Virada para o palco havia uma iluminação que muita banda cearense nunca teve em seus shows. Câmeras de TV, fotográficas e muitos jornalistas empunhando microfones e canetas, armados para o grande acontecimento.
"Nossa!" - pensei eu - "Isso é digno de um astro de Hollywood, porque não? Será que é o Tom cruise que virá?". Esse pensamento mal me ocorreu e eu já me apressava para a primeira fila (a terceira fila, na verdade, as duas primeiras eram reservadas), afinal, quem dispondo de uma sã consciência, perderia a oportunidade de ver o astro de Top Gun tão de perto?
_ Eu acho que o Caco vai descer por ali e vai fazer uma dancinha!
_ Ah, não! Ele vai sair de trás de um biombo!
"Caco? Que Caco?" pensei eu. Bom, isso, com certeza, não é nome de uma galã de hollywood. Ignorando o antagonismo do nome em relação à personalidade que eu esperava e declarando a insanidade das garotas que faziam tais comentários, continuei ali, na terceira fileira, sedenta por ao menos uma piscadela do Último Samurai.
_ Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!! - Algumas meninas gritam na platéia. Logo me adianto para enxergar o motivo de tanta euforia, mas a legião de perseverantes jornalistas se aglomerou em volta dele sem dar espaço para uma investigação concreta. Preferi esperar sentada o anúncio de meu ídolo.
_ Caco, a aula é sua!
Por que mesmo insistiam em chamá-lo de Caco se ela não era um? Foi o que me ocorreu na hora, mas a resposta veio em seguida.
Pé direito no palco, com pisadas fortes e passadas seguras como poucas vezes presenciei na vida. As mãos seguraram o microfone com uma afinidade sem tamanho. Ali, parado, com o quadril quebrado pro lado e peitoral aberto, estava ele. Bom... não era bem quem eu esperava.
A postura era elegante, a curva do nariz era quase a mesma que tanto estudei em Minority Report, mas não era ele. Talvez a beleza dos olhos de safira pudessem enganar-me, mas não, não era ele. Entretanto, não me decepcionei. Com mais charme e mais sabedoria do que qualquer grande galã de Hollywwod, estava ali, na minha frente: Caco Barcellos.
Do alto da autoridade de seus 33 anos de jornalismo, aquele ex-taxista, filho de dois semi-analfabetos, que admirei desde a adolescência, me ensinava que eu sou a autoridade. E me ensinava muito mais. Ele resgatou em mim a sede que eu tinha nos primeiros semestres e que, talvez, não estivesse mais tão viva em mim. Resgatou a sede pelo jornalismo investigativo e pela perseverança.
Tom Cruise não veio esta noite. Ali estava um homem comum. Um simples jornalista que não trabalha pela fama, mas batalha por pessoas como o Sidney, um engraxate que esteve prestes a ser morto pela tropa de elite paulista, ou como eu, estudante de jornalismo e moradora da periferia fortalezense.
Aquelas arquibancadas de concreto e as dezenas de cadeiras permaneceram lotadas por duas horas de contação de histórias no melhor estilo stand-up comedy. E não era o Tom Cruise. Era um ex-taxista.Era a verdadeira autoridade.

W.A.M.

Um comentário:

Aline Farias disse...

Espetacular! Verdade verdadeira... e meu queixo caído =p