sábado, 19 de maio de 2012

Pode ficar com o troco


Garçom, uma cerveja para começar. Estupidamente gelada. Como o mundo... estúpido e gelado. Ah! E um guardanapo, por favor. Hoje nada de batom vermelho, ele só atrapalha. Ressalta essa minha cara de durona e acabam esquecendo que tenho um coração.
Isso mesmo, seu garçom. Sou mais sensível do que consigo demonstrar. Amor? Não, com isso não. Isso vem com o tempo e terei muito no futuro. Mas amigos... não consigo deixar de sentir a dor deles .
Me chamam de grossa, arisca, hostil... mereço cada uma dessas palavras e prefiro assim. A velha máscara. Esconde o que há de melhor em mim. Prefiro ser hostil a esquecer o verdadeiro significado de uma amizade. Você sabe qual é? É... difícil mesmo, mas com o tempo fui trabalhando nesse conceito.
Amizade não é dar um perfume no aniversário, mas lembrar de alguém com um bombom fora de hora. Sair para beber qualquer um faz, até mesmo só... olha eu aqui... ficar em casa e compartilhar alegrias e dores é outra história.
Acima de tudo está o respeito e aprender a relevar. Todos temos defeitos, seu garçom. Por falar nisso essa sua gravatinha tá fora de moda, hein? Mas eu vou relevar, sabe porque? Ser amigo é saber de cada um dos defeitos de alguém e conviver com eles. Gostar do outro como ele é. Tudo bem, eu sei que ninguém tem a obrigação de aturar nada, é aí que minha máscara cai. Por um amigo pra vida inteira, sou capaz de tudo.
Posso desabafar ainda mais? Quero ir para aquele novo circo que chegou à cidade, ver as luzes, a magia, as crianças inocentes e sem preocupações sendo levadas pelo show no picadeiro. Mas não tenho coragem. Já sei o final. O palhaço sai de cena, lava o rosto e acaba em seu trailer com cervejas quentes e remédios, esperando o dia seguinte, as novas crianças, a nova vida.
Sou uma palhaça, seu garçom. Hiperativa com cara de durona, porém uma molenga apaixonada pelos amigos, incapaz de nutrir ressentimentos. Talvez essa seja uma visão romântica do mundo. Engraçado isso vindo de quem não se apaixona, trágico vindo de quem só quer ver os outros felizes.
Sim, me envolvo. Sofro. Esqueço. Opa! A cerveja acabou, mais uma! O que eu estava dizendo mesmo? Deixa pra lá, pouco importa. Nada que não pudesse ser esquecido com o tempo de uma boa cerveja e uma bela convera.
Obrigada, seu garçom. Pode ficar com o troco.

W.A.M.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Ovos mexidos e liberdade, por favor


2012. Um homem visita a antiga casa, hoje entre tantos outros galpões em um enorme campo verdejante. Os olhos cansados mal acreditavam na beleza daquele lugar em um pedacinho da Alemanha. Nem o verde, nem as flores, nem o dia ensolarado o distraíam do odor que vinha com as lembranças. Era um cheiro familiar... de amigos. Queimados. Mortos. Por seres que se auto-intitulavam humanos.
Difícil enxergar a beleza ao sentir o que caía em sua pele. Poeira trazida pelo vento. Como as cinzas em outro dia de sol que ficara no passado. Naquele dia no qual vira sua mãe pela última vez. "Amor, vou com sua irmã, volte para lá! Nos veremos mais tarde!", dissera ela entre os gritos dos soldados. O 'tarde' nunca chegou...
Não lembrava de ter dito adeus, apenas uma voz de um homem sem rosto ecoando em sua mente. "Está vendo aquilo? - apontou para uma enorme chaminé - É  a sua família virando fumaça".
Como podia sentir a brisa como o outros? Apenas ouvia a marcha de homens, mulheres e crianças esquálidos e silenciosos em seus pijamas brancos e azuis.
Não lembra bem como escapara. Só de ouvir o fogo dos fuzis alemães enquanto correra com toda força que sua magreza permitira. Mais tarde vira pilhas de homens e sangue. Amigos. Parentes. Mas não ele.
Apagou e  acordou dentro de um tanque de guerra. Acordou vivo e livre. Não mais tivera de comer os próprios piolhos para sobreviver. Queria apenas ovos mexidos e uma vida normal.
Os tem agora e dá ainda mais valor às rugas com as quais o tempo livre o presenteou. Rugas que muitos homens que dormiram ali, ao lado dele, naquele galpão, não tiveram oportunidade de ter. Homens humildes, honestos... amigos.
O velho vira tudo calado e assim permanecera como se fosse o primeiro dia do resto de sua vida. Mas não restava muito. Acendeu o charuto e esperou queimar. Tinha certeza que em algum lugar entre a câmara de gás e a eternidade, ela a esperava sorridente para dizer: "Eu disse que nos veríamos mais tarde".

W.A.M.

domingo, 13 de maio de 2012

Dia da verdade


Dizem que há uma mãe dentro de cada mulher eperando para ser libertada. Concordo em discordar. Nessa semana, os jornais estavam cheios de notícias de mães que abandonaram filhos em lixos, uma que espancou a filha até a morte, outras que simplesmente vemos pelas esquinas utilizando suas crianças para ganhar dinheiro.Essas mães nunca foram libertadas e merecem continuar lá, enjauladas em outro tipo de cela. 
Mas hoje é dia das mães e essas historias com certeza não podem ser maioria. Nada supera o amor de uma verdadeira mãe. A minha é a melhor mãe do mundo. Sim, a minha. Sei que se for um bom filho, vai discordar, espero que sim.
Não há nada melhor que acordar sonolento pela manhã com aquele cheirinho de café feito na hora, voltar pra casa e comer a delícia do almoço de mãe. Cada momento é único. Aquele no qual ela me ensinou a amarrar o sapato sozinha, o sorriso lindo que veio com a primeira estrelinha ganha no caderno, o colo quentinho enquanto assistíamos ao seriado do super-man.
E as brigas? A única pessoa com quem brigamos com a certeza de que depois tudo estará bem e ela será a única que não nos abandonará. Até brigar com mãe pode ser mais gostoso.
Hoje é dia da minha mãe, da sua, das verdadeiras. Das professoras, faxineiras, empresárias, secretárias, advogadas, carroceiras. Hoje é dia de mãe. Dia de fazer-mos nós o café, o almoço, de escolhermos a roupa que ela vai sair, de deixá-las lindas e de ama-las. Dia de orgulhar-se por ter uma ao lado.
Hoje é o dia delas, para elas, todo dia é nosso. Nada pode ser mais verdadeiro do que isso.

Te amo, mãezinha.

W.A.M.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Sorriso de prateleira

Nada é o bastante para suprir nossas expectativas. O problema é exatamente este: há expectativas.Elas são geradas de forma inconsciente. Tiremos o mercado como exemplo. Há uma enorme variedade de tipos de cada produto, o que gera uma enorme variedade de escolhas e liberdade para levarmos o que nos apetece. Bem, não é bem assim.Tantas escolhas nos prendem à indecisão, quando finalmente o produto é escolhido, notamos que ele não é perfeito, há o arrependimento. A sensação de que podíamos ter feito melhor, que a nossa expectativa era maior que a realidade encontrada.

Assim é na vida. Estamos sempre em busca de mais, do perfeito, que tudo aconteça exatamente como pensamos sem dar-nos conta que não podemos ter tudo que queremos.Isso desagua em um problema maior, mas não mais profundo que a escolha de uma escova de dentes no supermercado: a busca pela felicidade.

Um pensador contemporâneo, o qual infelizmente não recordo o nome no momento, disse que "o segredo para a felicidade é baixa expectativa". O segredo não está em ter exatamente o que se quer, mas em ver a perfeição no torto. Em pegar o que se conseguiu e transforma-lo em felicidade. Em suma, a felicidade é um produto mais fácil de se encontrar que qualquer outro, há apenas 2 escolhas: lamentar-mo-nos pelo que poderia ter sido ou sermos felizes pelo que é.

W.A.M.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Saber branco

Toda forma de conhecimento é válida. Toda. Principalmente a dos cabelos brancos. No último final de semana tive a chance de escutar um senhor muito sábio falar. Sobre mirtáceas. Sobre a vida. Eu, jovem que sou, ouvi atentamente a aula gratuita proferida por aquele homem de rosto maduro e amigável e cabelos prateados pelo tempo. Não havia outro lugar no qual preferia estar.

Sempre aprendo com a experiência grisalha. Meus avós também muito me ensinam. Eles não estudaram, minha avó materna nem sequer sabia ler, mas são muito mais sábios do que sonho em ser. Eles me ensinam sobre a vida. 

Paternos e maternos viveram em casas de taipa, batalharam duro por uma vida melhor. Erraram. Aprenderam. Ensinaram meus pais. Estes, já sexagenários, me ensinam a cada dia o valor do suor, do trabalho duro, do estudo e busca pelo conhecimento. Eu só tenho a aprender e admirar.

Se pudesse dar um conselho, mesmo com meus cabelos pretos quimicamente aruivados, seria: escute. A leitura engrandece e ninguém pode roubá-la, mas há mais meios de aprendizagem. Escutar a sabedoria daqueles que viveram. Explorar o que os olhos esbranquiçados aprenderam com a vida e o que tornou os cabelos prateados.

Meus avós, pais e o sábio senhor botânico sabem mais do que muitos de nós saberemos. Dos livros. Do mundo. Dos cabelos brancos de sabedoria.

W.A.M.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Despedida hiperbólica

Sou hiperbólica. Defeito básico de jornalista / ex-atriz de teatro. Sim, não há dúvidas, exagero ao expressar diversos tipos de sentimentos, porém há coisinhas que não consigo entender nem exagerando no meu pensamento.

Todos temos defeitos e o respeito / carinho nos fazem conviver e amar uns aos outros. Nem todos. Há aqueles seres-humanos superiores, dedicados ao extremo... em apontar os defeitos dos outros. 

Sabe aqueles que dizem o quanto você é isso ou aquilo, fala do que você faz em tom de crítica destrutíva? Todos conhecemos alguém assim. Aliás, 'alguéns' (se o sr. Aurélio perdoar-me o mau plural). E esses não são os amigos que estão lhe dando um conselho para que evolua, falo dos que sentem-se incomodados com algo e, em vez de se retirarem, aconselharem, falam mal.

O que estou fazendo agora? Apontando os defeitos deles. Vingança? Desabafo? Não sei. Apenas sei que minha verborreia clamava por ser vocabulada em forma de escrita. É. Sou hiperbólica.

Aproveito para fazer um pedido. Aconselhe-me. Me ajude a crescer. Se quer me ajudar a escrever textos como este, por favor, sua melhor crítica é a visão das suas costas. 

Grata.

W.A.M.