terça-feira, 21 de agosto de 2012

Vai entender...

Se é calada, é sonsa; Se é comunicativa, fala demais.
Se chega nele, é puta; se espera chegarem, não tem iniciativa.
Se é simpática, dá mole pra qualquer um; Se não, é besta demais.
Se vai pra casa logo na primeira noite, é uma qualquer; se não, é cu doce.
Se  faz contato após ficarem, é carente; se espera fazer, pode ficar esperando pra sempre.
Querem que seja sempre sorridente, delicada, fale pouco e tenha uma voz agradável, que seja uma princesa disney. E fazem questão de lembrar que príncipes não existem.
Se aperta firme a mão, é confiante demais, melhor se afastar. Se olha nos olhos, intimida demais, melhor se virar.
Se morde é arisca, se tem sempre uma resposta na ponta da língua, é bruta.

Ok, homens. Melhor vestirmos sempre nossos vestidos rosas de cetim, cantarmos canções de ninar pensando nos futuros prováveis filhos, baixarmos a cabeça para tudo que dizem e respondermos apenas o necessário.
Melhor abrirem um livro de contos de fadas ou procurar patricinhas bem mimadas, porque mulheres de verdade não querem encontrar.

W.A.M.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

No final...

Não sabia se era a luz que ofuscava a visão ou se realmente não tinha fim. Só sentia que puxava e puxava e nunca chegava à outra ponta, como se alguém estivesse lá do outro lado fazendo o mesmo.
As mãos sangravam na tentativa de chegar lá, descobrir o que o estava esperando. Uma brincadeira infantil com um cabo de aço grosseiro. Aos poucos o sangue ia tirando o viço da pele, a vontade de continuar. Cada ferida, uma desilusão. Sem tempo para trocar de pele ou de coração. 
Hora de desistir. Não havia ninguém na outra ponta, fato. Soltou o cabo e pensou em dar as costas, melhor não.O cabo estava se mexendo sozinho. De repente, segurando a ponta que tanto procurara, surgiu como uma visão sombreada pelo sol às suas costas, uma bela garota de olhos verdes e pele morena. Não sabia se era de fato bonita, mas o encanto foi instantâneo.
Bem que disseram. Há sempre alguém na outra ponta, basta não parar de tentar mesmo com as feridas do caminho.

W.A.M.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

tic-tac-tum


"Tic-tac, tic-tac, tic-tac", disse o ponteiro do relógio que carregava no pulso. Disse com um tom irritante, como quem diz: "Não adianta esperar, garota! Ele não vai chegar".
Enquanto os ponteiros resmungavam entre si, o peito quase não tinha forças para segurar um coração frenético. "Tum-tum, tum-tum, tumtumtumtum, tumtumtumtum", disse ele por ser educado. Mas na verdade queria berrar: "Que espera dolorosa, não aguento mais!!!!!"
Maldita vontade de alardear ao vento quente daquela noite o que se passava com ela já havia um tempo. Não tinha experiência o bastante para dissertar sobre as coisas da vida, mas bastou sentir a pimeira vez para saber que aquilo era paixão. Que esquenta as maçãs do rosto e borbulha como água quente correndo pelas veias.
E olha que ele nem havia chegado. Aquilo tudo era apenas na esperança de vê-lo mais uma vez. Admirar, mesmo que ao longe, o que vira e, ao mesmo tempo, entender o que vira de tão especial.
Relógio e coração gritaram em uníssono quando ele finalmente surgiu com aquele sorrigo largo com gostinho de suco de morango. 
Parou. Sorriu. Abraçou. Silenciou. De repente o relógio ficou mudo, os ponteiros pararam de brigar e congelaram. O coração esqueceu as reclamações para descansar junto ao outro que o acolhia tão bem.
Valeu a pena esperar só por aquele momento mesmo que o seguinte fosse cheio de incertezas e indagações. Medo de acordar abraçando o travesseiro.

W.A.M.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O que é que há?

Há sinceridade em toda parte. Alardeada em rouquidão bombardeando a solidão. 
Há muita sinceridade. 
Mais do que pode-se crer de fato, mais do pode-se ver no ato.
Há sinceridade com sorriso largo, olhos espertos e afagos ao vento.
Há com cenho fechado, seriedade no jeito e olhos atentos. 
Há em toda parte o que não há de verdade.
Há sinceros demagogos de verbos lustrosos e verdade sem gozo.
Há muito de nada. Há nada para muitos.Há muito de pouco.

W.A.M.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Detalhista

A espera é longa e dolorosa. Um dia aquele mega-acontecimento vai chegar, mudar minha vida, me fazer feliz. O tempo passa, expectativa aumenta, decepção também. Esperamos o incerto e esquecemos da certeza: o agora.
A vida não é feita de grandes milagres, felicidades extremas, amores extasiantes. Não é. Na caça incessante pela felicidade, vence o detalhista. Aquele que olha nos olhos, que sorri ao notar o primeiro dia de lua cheia, que entrega uma flor a uma moça e recebe em troca um leve rubor.
É nos detalhes que se esconde o segredo da felicidade. No cafuné sincero, nas palavras sussurradas pelo amor, no racha do final de semana. Naquele dia em que tudo deu errado, mas você fica feliz por estar cansado apenas por estar sentindo algo. 
Algumas pessoas colocam todas as chances de ser felizes no príncipe que chegará em seu cavalo branco. A felicidade pode estar sentada na sala de aula, na esteira ao lado, na padaria do cafézinho  fraco, sempre lhe observando sem a coragem de se apresentar. Ou, ela simplesmente, pode estar bem mais escondida, lhe olhando por dentro, esperando ser libertada por um sorriso pueril.

W.A.M.

Uma sonhadora eu, coitada

 Eu tenho um sonho. Sonho com o dia em que o egoísmo dê lugar ao altruísmo. Em que os enamorados não tenham medo de arriscar, em que a fome seja apenas o que sentimos entre o café da manhã e o almoço.
Sonho com resoluções. Que os conflitos sejam resolvidos com palavras e as guerras enfeiem apenas os livros de história. Sonho que a violência fique na história.
Sonho com o dia em que a leitura vire um hábito universal. Que as crianças dividam as atenções entre o Mário Bros e o Monteiro Lobato, que brinquem e não tenham pressa em crescer.
Sonho com vitórias. Do grupo sobre o individual. Que a humana seja uma raça sem subdivisões. Sonho em ver homens de mãos dadas, casais de mulheres com seus filhos e que todos os casamentos sejam iguais. Sonho com o dia em que o amor seja um só.
Sonho em ver as pessoas se aceitando como são e dando aos outros o direito de serem aceitos.
Sonho com que todas as crianças acreditem em papai noel e que recebam dele seus presentes de natal. Sonho em ver viadutos limpos da miséria.
Sonho em poder confiar nas pessoas sem medo de me machucar e em me deixar ser amada sem medo de ferir.
Sonho com mais árvores nas cidades e mais liberdade entre os homens.
Sonho em andar na rua sem medo, em ver as escolas cheias e os parques animados. Sonho com o dia em que colocar um filho no mundo se torne seguro.
Sonho com homens íntegros, cheios de princípios e respeito pelo próximo. Sonho com uma boa notícia sobre a renda per capita no jornal noturno.
Sonho com meus sonhos.
Sonho com o dia em que meus sonhos irrealizáveis virem realidades insonháveis.