terça-feira, 23 de março de 2010

I do apreciate you being round




Viver não passa de uma brincadeira de criança. Uma brincadeira de encaixe. Achar os encaixes perfeitos é um sentido primordial da vida. Não se trata de forçar as peças, apenas de encaixá-las.

Um sorriso compartilhado em dias de festa e uma mão firme em noites de chuva formam a grandiosidade da vida. Mas não é permitido forçar.

O encaixe da amizade vem como quem não quer nada e nem é possível dizer exatamente quando ele se instala. As melhores coisas não podem ser explicadas com meras palavras padronizadas por homens, elas mais do que dizem: fazem.

Fazem voar em meio a um turbilhão de devastações, terremotos pessoais e choques atípicos. Aliás, fazem com que você queira perder as asas. Os amigos também servem pra colocar seu pé de volta ao chão.

Na amizade você não precisa pedir ajuda ou implorar por companhia. Elas vêm. Vêm junto com uma alegria incomparavelmente sublime de saber com quem se pode contar.

Amigos te dão carona e te alimentam no meio da madrugada. Te acolhem e fazem desaguar de dentro de você suas mais profundas angústias sem quaisquer intrumentos de sucção da alma. Amigos te consomem e pedem pra ser consumidos. São como algozes das gargalhadas que levar-te-iam ao paraíso, ou mesmo te fariam querer ir até o inferno se lá eles estivessem.

Para viver é necessário achar um encaixe. Um basta, mas quando ele vem em bando pode formar um castelo que te abrigaria das mais furiosas tormentas.

Se viver assim, com essa intensidade voraz de uma criança que quer conhecer o mundo, é tão incrivelmente devastador, então quero eu perder-me na intensidade de uma nova vida. Eu não consigo ser pela metade. Sentir e meio-termo não populam a mesma frase.

Quero mergulhar nas entranhas de uma noite empática, povoada de sorrisos amigos e pérolas dignas de um livro de anedotas. Quero conhecer uma alternativa melhor para as noites tediosas dos domingos sem graça. Quero achar a graça de cada momento. Mais do que qualquer coisa, não quero que lembrem de mim e digam que "ela é muito só", mas que "ela é intensa".

Para isso é necessário se desvencilhar do passado e entregar-se a esses seres indispensáveis. A vida sem amigos seria... seria uma morte.

Quero a intensidade de uma vida de algodão. Moldada ao sabor do vento e cheia de formas surpreendentes.


W.A.M.


quinta-feira, 4 de março de 2010

I will try to fix you

O bar estava cheio de pessoas perdidas. Cada uma tentando se encontrar em outros sorrisos, outras bocas, nos caminhos dos outros sem ao menos darem-se conta que os caminhos de alguém são mais perdidos que os próprios. Somos cientes de nosso desencontro, mas é impossível encontrar-se nos caminhos de mais alguém.
Em meio a esse turbilhão de encontros desencontrados, alguém preferia perder-se dentro de si. A garota no bar, com um copo na mão, austeridade no cenho e uma mensagem na testa.
Ali, no canto do bar, ninguém a enxergava. Parecia ter uma aura intocável que gritava: "Eu já encontrei!" Mas não era verdade. Era alguém perdida que não queria encontrar os caminhos errados de mais ninguém, queria apenas saber qual era o seu.
A música invadia o local e ninguém mais, além dela, parecia ouvir. Os perdidos não conseguem concentrar todos seus sentidos em um só alvo. Ela conseguia. Enquanto todos cantavam "I will try to fix you", ela tentava to fix herself.
Mas de repente tudo foi ficando mais turvo, de uma cor azulada que ela não saberia identificar. As pernas fraquejaram, o chão se abriu e ela caiu. Caiu em si. Desabou na verdade de seus desencontros e se perdeu. Ali, sozinha, como se ninguém mais pudesse vê-la, ela se conformou.
As pegadas deixadas pelo chão não caberiam nas solas de outros pés.

W.A.M.