domingo, 9 de setembro de 2012

Seja mal-vinda

 O coração parou como em um enfarto fulminante, a respiração desapareceu de súbito e os olhos pareciam vidro duro arregalados de terror. Estava eu ali de frente com a morte. Maldita senhora milenar que insiste em levar o melhor de mim: os outros.
Vê-la ali, instalada na sala de estar como se tivesse sido convidada de bom grado, de mãos dadas com ele, me fez esquecer todos os bons modos. "Vá dizer oi pras visitas, faça sala pra elas" - sempre disse minha mãe. Teimei. Virei as costas e tentei retomar as batidas do coração assim como a respiração. 
Lá estava aquela velha inxirida, mais uma vez, levando um pouquinho de mim. Voltar à sala não foi fácil. Foi necessário. E olhá-lo... Estava lindo. Rosto tranquilo como não via há muito tempo. Dois dias antes a visão no quarto de um hospital fora pior. E como fora difícil dizer adeus.
Como se diz adeus a quem não quer que vá? Como dizer adeus sabendo que não haverá volta? Meu coração se confortou com a ideia de que agora ele estava descansando em paz. Tinha, inclusive, ignorado a velha inxirida até... tocá-lo. Foi cruel. Sentir o gelo da pele que tanto me esquentou quando tive frio, quando tive medo, quando simplesmente fazia manha em troca de colo. Um gelo cruel. Mortal.
Não há como ignorar a velha maldita.
Ainda assim a sensação de que não era verdade circundava-me.  Fui para casa, deitei na cama, fechei portas e janelas, abri a garrafa e fitei o teto. Era a primeira vez que ficava sozinha desde a notícia. Gostava de ficar sozinha. Não dessa vez. Só então veio a certeza que nunca mais o veria. Nunca mais deitaria com ele na rede de palha na varanda. Nunca mais receberia aquele sorriso escancarado de presente. Nunca mais receberia uma visita surpresa.
É. Virei. Desmaiei. Um sono profundo do qual não queria mais acordar. Mas acordei. A vida continua e um dia a outra chega. A indesejada, a inxirida, a maldita velha ranzinza. Ela virá e vai se instalar na sala da minha casa e eu também vou ser obrigada a fazer sala.

W.A.M.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Adeus...

Não venho aqui externar inteiramente minha dor, nesse momento ela só pertence a mim, mas fazer uma espécie de alerta. Hoje se foi mais uma vítima da própria teimosia, do próprio vício. Ele se foi graças ao cigarro. Mas o homem da foto tinha 85 anos, era pai de 14 filhos, homem bruto do interior do Ceará que passou a vida no cabo da enxada e em casa de taipa. O homem da foto não teve, durante maior parte da vida, informações suficientes para se conscientizar do que estava fazendo consigo mesmo, quando teve, era tarde.
Ele é mais uma prova de que o cigarro mata. Pode ser aos poucos, mas acaba com seu fôlego, com a sua qualidade de vida e, enfim, tira seu ar... É incrível como, na sociedade contemporânea, há tantas fontes de informação, tantos exemplos como esse e vejo por aí jovens começando a fumar, porque é 'cool', outros fumando 'socialmente, porque ah!!! não faz mal... só quando bebo'. Incrível.
Se você faz isso, saiba que está encurtando sua vida e, para mim, uma pessoa que fuma tendo consciência disso tem sérias tendências suicidas. Parabéns para você que quer se matar, mas não tem coragem suficiente de fazê-lo prontamente.
O homem da foto era forte, bem mais que um touro. A mãe dele morreu centenária, com 108 anos, e ele tinha tudo para alcançar a faixa. Foram 7 anos de luta constante contra o câncer, mas o cigarro castiga. Como aquela garota que você ama, mas lhe ilude... lhe dá amor... lhe faz sentir bem. Depois, lhe dá uma rasteira irreversível.
Quanto a mim não adianta chorar se era ele quem sempre me dava esse sorriso lindo. Não adianta lamentar, se ele sabia e, de certa forma, queria que isso acontecesse após tanto tempo de dor amenizada apenas pela morfina. A vida é um ciclo efêmero que um dia finda.Só não vale encurtá-la.
Meu vôzinho vivia em uma realidade bruta, dura, diria  que era até real demais para nós. Se você tem facebook, deve ter informação suficiente para saber o que o cigarro faz.
Não se mate, por favor. Alguém vai sofrer.