sábado, 24 de dezembro de 2011

What have we done?

Já chegou o natal. O que fizemos pra ele ser melhor? Compramos um belo peru e o vinho está a espera. Enquanto isso alguém chora do outro lado da cidade por que o papai noel nunca o visita.
Hoje é natal. Não pra todos. É natal pra quem nunca soube o que é fome, frio ou desamor. Nunca foi natal pra quem sente o salgado das lágrimas dia após dia por não ter o que pôr na mesa.
É natal já. E nada fizemos para que o fosse também para todos.


W.A.M.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Então é natal



Então é natal. Na sala, a adolescente finge um sorriso ao abrir o brinquinho que ganhou de amigo secreto do primo. O patriarca faz um discurso sobre o natal no qual ninguém presta atenção focados em seus presentes recém-ganhos.
A mesa está farta com um belo peru adornado por batatas e temperos, para acompanhar um bom vinho. O bastante para todos dormirem de barriga cheia. Principalmente as crianças que, ao acordar, terão presentes deixados pelo papai noel embaixo da árvore dourada.

Então é natal. Na sala que também serve como dormitório, a adolescente, mais velha de 8 irmãos, sorri sinceramente ao ganhar um brinquinho. O mais lindo dos 2 que ela possui. O patriarca faz um discurso sobre o verdadeiro significado do natal com todos atentos à história bíblica do nascimento do Messias. A mesa de centro foi movida de lugar por causa das goteiras no telhado da velha casa de taipa, nela um luxuoso banquete de arroz com feijão e um pouco de frango. Não o bastante para encher tantas barrigas, mas muito mais do que costumavam ter. Hora de dormir, é preciso fazê-lo cedo, pois no dia seguinte uma longa jornada os espera. Na esperança de que o próximo natal seja um pouco melhor.

W.A.M.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Faça seu ano




Não é necessário chorar pelos erros cometidos. Muito menos fazer uma lista enorme de promessas que serão esquecidas em uma gaveta. Ou pior, acreditar que em janeiro tudo vai ser diferente porque o novo ano chegou com essa tal magia estranha que, para muitos, pode transformar os desejos em realidade a partir de meia-noite.

Ano novo não é pó de pirlimpimpim.

É preciso acreditar, mas em você mesmo. No que você pode fazer para melhorar seu ano, no bem que pode fazer a alguém e nos sorrisos que vai colher. Não se mede um ano em promessas, mas em fatos. Para que eles aconteçam só depende de você.

O ano novo não precisa começar a meia-noite de 1º de janeiro. Pode começar em agosto, em dezembro.. hoje! Começa no momento em que tomamos a decisão de mudar nossas vidas.
O ano novo nos espera para que o façamos realmente novo e não mais do mesmo.

W.A.M.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Obrigada

Há um tempo a pergunta da moda é "o que faz você feliz?". Boa pergunta. Traiçoeira. Dá margem a indagações sem fim quando a resposta está bem ao nosso lado. Na nossa frente. Dentro de nós.
Me faz feliz o sorriso de quem gosto, uma mensagem despretensiosa, o gosto de um bom beijo. Fico feliz quando vem aquele convite surpresa, um presentinho feito a mão, um abraço bem apertado e uma gargalhada gostosa.
Fico feliz com meus amigos.
Isso não é um simples texto, é um agradecimento. Amizade não se pede, se conquista. Não se agradece, cala. Porém preciso fazer isso.
Obrigada aos que me ligaram, me mandaram mensagens e foram até mim só pra me dar um abraço. Você fizeram do meu aniversário mais do que o mero dia do meu nascimento. Me fizeram sentir que no dia 10 de dezembro de 1988 nasceu uma pessoa que conseguiu fazer alguém feliz e que é feliz.
O que me faz feliz é ter vocês na minha vida.

W.A.M.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Parabéns, Lispector


Aniversário... Uma festa pra lembrar-nos do que resta. Uma data na qual olhamos pro futuro e perguntamo-nos. Como será daqui pra frente? O que será diferente? Esquecemos do que mais importa. O passado que construiu nossa história e o maior presente: o presente.

Nesses inexperientes 23 anos aprendi a viver. Apesar dos pesares que fizeram-me blindar aquilo que deveria continuar intacto. Viver para mim, para fazer alguém feliz. Aprendi a ter gosto pela vida.

Cada um tem a idade que carrega no coração. A idade é caracterizada pelas nossas experiências, sonhos, pelas vezes que choramos e pelos sorrisos que nos contagiaram. Qual seria a nossa idade se não soubéssemos a data do nascimento?

Escolho a idade do meu amigo Peter Pan. Uma adulta que não quer esquecer a criança, mas que não luta contra a idade. Que ela venha e traga aprendizado, conhecimento, sabedoria. Que traga um presente sempre melhor que o passado e menos produtivo que o futuro.

O que resta é uma vida inteira de intensidade.
W.A.M

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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Só seja




A cada dia esse sentimento cresce mais e mais. Isso de ser feliz não importa por que ou com quem. Aliás... Importa sim. Ser feliz com a pessoa que arrebatou meu coração. Aquela que
dia após dia me faz sentir cheia de vida. Uma pessoa que é minha amiga e confidente. Eu.

Eu sou a pessoa que mais pode me fazer feliz. Sem meu amor próprio, sem minha confiança e sorriso não consigo continuar. Ninguém pode me deixar triste se eu não quiser. Felicidade pode vir ao lado do verbo estar. Melhor ainda é ser. Ser feliz. Se amar. Se não nos amamos, amamos mais ninguém e não serão capazes de nos amar.

Portanto não esteja. Seja feliz. Só depende de você.



W.A.M.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Desafio



O vazio sempre me completou. Talvez por falta de um bom preenchimento. Ou não, porque ser vazia é uma válvula de escape do sofrimento. Das dores de um coração que cansou de ser estraçalhado.

Tem horas que o vazio não mais preenche a não ser de solidão, tédio e desamor. Um recheio sem o aroma daquele perfume amadeirado, sem a visão de um sorriso bonito, sem ouvir palavras excitantes, sem o gosto do outro, sem o tato de uma mão protetora... Os sentidos se perdem na imensidão de uma cratera de insensibilidade. Perfeita por um tempo para proteger-se de uma dor maior. Depois apenas um esconderijo de si mesma e da capacidade de fazer alguém feliz.

Agora vejo um invólucro duro e sem vida utilizado como subterfúgio de uma vida sem emoção. Só não inquebrável. O desafio está aí... Será que alguém consegue quebrar?

W.A.M.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Descomplicando


Ouço choramingos diários de pessoas em busca da felicidade. Por anos meu interior também gritava por isso.

Eu e mais 7 bilhões tentando encontrar a felicidade, a pessoa certa... Quanta besteira. A felicidade está dentro de nós e em mais nenhum outro lugar. Somente nós podemos saber o que nos faz felizes e, geralmente, complicamos tanto o que é simples.

A felicidade está naquele banho depois de um dia cansativo, no chocolate depois do almoço, no sorriso de quem se gosta, em ser útil, numa mensagem recebida daquela pessoa, em se aceitar como é, em se amar, em amar alguém. Não que a felicidade precise de alguém para ser, mas como é bom compartilhá-la. Fazer alguém feliz. O sorriso do outro pode ser o maior alicerce pro seu próprio sorriso.

Portanto o importante é ser feliz e espalhar essa felicidade inerente a nós. Uma felicidade em respirar e sentir um ventinho no rosto a cada dia. Uma felicidade em ter com quem contar e estar disposto a ajudar. Em gostar de alguém e aproveitar aquele momento tenso e gostoso do início, da dúvida.

Felicidade... é tão fácil ser feliz. Por que complicamos tanto?

W.A.M.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Subtraindo

Cansei... É incrivelmente cansativo tentar e não conseguir, arriscar e tudo dar errado. Ser sempre mais uma "carente" em busca de algo que nunca se teve.

Como saber se é bom, se dá certo? O sentimento já o é. Pelo menos ele encaixa milimetricamente com os desejos mais ocultos. De que adianta se é unilateral.

É frustrante descobrir que lhe mentiram durante uma vida dizendo que a pessoa certa vai chegar... pura ilusão de uma romântica atordoada.

Aprendi com a matemática que 1 + 1 = 2. Aprendi com a vida que 1 + 1 = -1. Menos uma razão para tentar ser feliz. Somar não adianta se não está disposto (a) a dividir.

Melhor subtrair essa vontade.


W.A.M.



quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Hein?


Não entendo. Entretanto tenho ciência de que minha ignorância me mantém firme. Portanto prefiro não entender. Seria mais fácil se os filmes fossem verídicos, se as bolas de cristais existissem. Seria fácil. Que graça há nisso?

A ignorância é uma benção. Tentamos entender o que os outros pensam, querem, sentem... A ansiedade pelo explícito diminui a beleza do mistério. Prefiro não entender, sou melhor assim.

O conhecimento vem aos poucos, sorrateiro... embriaga, aquece e torna a descoberta mais encantadora. Prefiro ter a inteligência dos ignorantes à certeza dos arrogantes.

A beleza está no mistério, em deixar acontecer. Sentimentos não foram feitos para serem entendidos, mas sentidos.

W.A.M.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

E daí?




Tenho preguiça para polêmicas. Parece uma declaração ignorante a ser feita a uma sociedade que necessita de autoafirmação. Só que não posso negar, as exposições narcisistas quanto as próprias opiniões me fazem bocejar, às vezes até causam aquele riso interno [melhor não externar].


Cada discussão acadêmica, "conversa filosófica", "diálogo saudável", exposição ideológica, "discussão engrandecedora" que presenciei não passaram de tentativas frustradas para mudar meus princípios a todo custo. Gostaria de recuperar tanto tempo perdido, tantas palavras putrefatas. Portanto não venha exigir minha saliva se não quer ouvir o que vem com ela. Eu não sou coorente.

Minha incoerência me dá possibilidade de mudar de ideia com o tempo. De crescer.
Tenho preguiça para convictos inveterados. Polêmicos em busca de brigas e não troca de conhecimento. Prefiro ideias expostas em livros, músicas. Em palavras ditas despretensiosamente. Que não busquem ferir os pensamentos alheios.

Se bem que pode ser que eu esteja errada. De qualquer forma você não precisa aceitar as letrinhas que juntei neste texto. Nem precisava ler até aqui.

Só peço um favor. Se quiser comentar não venha querer me convencer do quão errada estou, já se quiser dar sua opinião, ela será bem-vinda.

W.A.M.

sábado, 11 de junho de 2011

Dose diária


Foi aberta a temporada... de compras. O amor está no ar e tem cheiro de novo, de tinta fresca, finos chocolates suiços e rosas escolhidas a dedo.

Em todo dia 12 de junho é só olhar pro lado para ver uma garota com os olhos brilhando de felicidade ao desmanchar o laço elaborado pela vendedora que atendeu seu namorado. A moça solteira atrás do balcão que, todo mês de junho, empacota amores materializados no melhor que o dinheiro apaixonado pode pagar.

O difícil é entender porque os níveis de ocitocina elevam-se acima do normal em apenas um entre 365 dias. O hormônio do amor é passível de sofrer mudanças diariamente, por quaisquer estímulos. Um simples abraço durante todos os dias ao alvorecer, pode virar a dose de paixão que falta entre o café e o pão com manteiga.

Só há um dia dos namorados, é quando tudo parece mais colorido, os odores excitam e os lábios ardem ao toque, mas a paixão, esse estágio primário do amor, e o próprio, pode ser estimulada a cada instante. Mas como estimulá-la se nem ao menos sabemos lidar com ela.

Esse sentimento de dimensões patológicas vem do latim e significa algo como "suportar um momento difícil". Uma doença que as mais sapientes mentes humanas ainda estão longe de encontrar a cura.

O cheirinho de novo continua no ar, mas as flores murcham, os chocolates acabam, as roupas gastam. O importante é não deixar a paixão murchar, não acabar com a felicidade e não gastar tanto dinheiro em um só dia quando se pode "gastar" tempo cultivando a única doença que provoca "ferida que dói e não se sente".

W.A.M.

sábado, 4 de junho de 2011

Retorno proibido




O sentir que inunda.
A alma, a calma, a cama,
entranha.
Uma vontade louca de sentir.
De outro jeito, assim como quem (desesperadamente)
não quer nada.
Acalma o peito.
Que nada. A chama arde na pele febril nesse ninho de quem não quer ser junto,
mas sozinho.
Crema no fogo do pecado mais puro,
na lataria da máquina mais insana.
A dor de senti-la sem porquê, com razão,
sem motivo, com paixão.
Amor por essa dor de doer devagarinho.
Consumindo quem é deixando de ser.
Não o sendo mais se sente acuado,
sem ninguém na linha ou ao lado.
Linha ocupada, sem registro de chamada enquanto entra na contramão.
Suicídio de quem entrou no túnel com o farol desligado,
a guarda baixa e o coração na mão.

W.A.M.

terça-feira, 5 de abril de 2011

A vida na porta


Um abrir de porta. Foi o bastou para que tudo começasse. As mãos que seguraram firmemente a maçaneta gasta, logo escorregaram da mesma com um suor frio. Quem diria que abrir a porta mudaria a vida daquele homem para sempre.

Do outro lado, estática nos degraus da frente, acompanhada por um senhor, estava ela. Vestido de chita em cor clara, fita no cabelo e sapatos modestos cobriam a pele alva. Os negros olhos baixos numa timidez inocente levantaram-se para fitar, como quem não quer nada, o moço à porta.

Alto, cabelos castanhos bem penteados, uma elegância natural mesmo em roupas baratas e um sorriso sincero de quem acabara de conhecer o céu.

"Walderi! Fale direito com sua prima!", alguém gritou lá de dentro. Falaria se encontrasse palavras. Estendeu-lhe a mão grossa e calejada e apertou uma outra. Pequena, porém também calejada dos anos de sofrimento e escravidão em um internato. Ela baixou mais ainda a cabeça bonita e tentou esconder a felicidade tímida que crescia no canto dos lábios.

Eles não sabiam, na verdade até imaginaram, mas naquele momento uma vida começava. Daquele simples abrir de porta, vieram cinco filhos, sete netos, dois bisnetos... Veio uma vida dura. Passaram fome, frio, medo. Mas juntos, tudo ficou mais fácil.

O encontro do homem sofrido do campo com a mulher inocente e trabalhadora do internato resultou em força, batalha, vontade de vencer. Juntos construíram uma casa, criaram filhos, conseguiram um patrimônio. Juntos. Talvez nada disso fosse possível se aquela porta não tivesse sido aberta pela pessoa certa, na hora certa.

Juntos viveram e hoje, mesmo sem ela, é pela doce moça da porta que ele vive e para quem deseja voltar. E toda noite sonha com o dia em que será a vez dela lhe abrir a porta.

[Texto inspirado em história real, contada pelo meu avô sobre como conheceu minha saudosa vozinha...]

W.A.M.

sábado, 19 de março de 2011

Solte suas feras


Enquanto eu vivo, você pensa. Esse é o problema: pensar demais. Analisar, esquematizar soluções, quando a vida deveria ser tão simples.


Não mistifique a vida. Ela é curta e nós somos tão frágeis. Não há nada mais delicioso que viver e deixar viver. Um dos piores erros do ser humano é deixar que o brilho se perca do olhar.

Ninguém tem um peso tão grande que não possa carregar. Erga a cabeça, sincronize-a com o coração. Se não for possível, tanto faz! Simplesmente seja. Não quem alguém imagina que você é, mas aquele que só você conhece.

A menina que nunca gostou de rosa, o garoto que odeia futebol. Seja o cara orgulhoso daquela cicatriz no queixo ou aquele que superou o PRÉconceito de pessoas de mente menor. Só você sabe quem é. Ninguém teve a mesma história, as mesmas ideologias, os mesmo herois. Liberte a fera interior!

Viva. Nem todo grande morre aos 27. O que torna alguém um grande pensador, é a capacidade de desprender-se da mente e deixar-se levar pelo coração.

Solte. Sinta. Seja. Simples.


W.A.M.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Grand gateau




Você pode me dar um brownie, eu sempre vou sentir falta do sorvete. Eu quero mais. Eu não quero um guarda-chuva que caiba na bolsa, quero um que sirva para 6 pessoas mesmo que apenas eu use-o.

Não basta estar no topo do Everest. Deve haver um lugar mais alto para subir. Um morango no topo do bolo é bom, uma torta de morango é ainda melhor. Água da nossa geladeira nunca mata a sede, é sempre esquecida. Águas estranhas são mais desafiadoras. Aguçam a vontade, secam a boca, provocam desejos.

Ninguém nasce para ser pequeno ou para ser uma voz a mais. Nunca ouvida, nunca lembrada. A missão ao vir ao mundo é fazer alguém feliz, fazer mudanças, engrandecer-se, nunca esmorecer... Porque a sensação de estar no topo da montanha é boa, mas saber que há montanhas maiores esperando para serem desbravadas é melhor ainda.

W.A.M.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Corujas não viram andorinhas



O medo toma conta de tudo e a cada dia corrói um pouco mais. O medo de sentir, de se expressar, de corresponder a sentimentos ou simplesmente o medo de se dar uma chance.

É aterrorizante pensar em rotina, tédio ou simplesmente em ter uma pessoa, a mesma pessoa, ao lado. Não que sejam necessárias várias, essas são dispensáveis, mas uma? Assustador. É um medo desconcertante que fala por mim da forma mais rude possível, magoando todos que tentam se aproximar.

Uma proteção contra o outro que acaba me protegendo de mim mesma. Você sabe que não consegue dar uma chance ao amor, mas se dá conta de que nunca tentou. Não quer.

Suas amigas falam de namorados com quem estão há anos, de crianças, casamento... Eu sou assim. Sou livre demais para imagina-me em uma casa com uma rotina massante, presa a alguém ou qualquer coisa e cuidando de crianças. Essas são mesmo apavorantes. De alguma forma essa proteção acaba atingindo os amigos...

Nunca fui o que chamam "normal". Não consigo ser. Aprendi a focar no futuro e tenho grandes planos para mim. Para mim somente.

Talvez eu não seja uma andorinha, sempre voando em par. Talvez eu seja apenas uma coruja: em busca de conhecimento, mas desconfiada, vigilante e sempre só.

W.A.M.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Si


A plenitude do mundo não era bastante, ele queria mais. Mais de si. Buscou por tanto tempo o horizonte a frente e esqueceu de ampliar as fronteiras internas. Tinha tudo que queria, mas não sabia o que queria. Não sabia nem mesmo quem o queria.

Em meio a atropelos e visisitudes resolveu estancar. Parou de correr atrás do incerto que nem ao menos sabia o nome enquanto ainda era jovem e bonito. Voltou-se para dentro.


Os amigos o chamavam por adjetivos pouco atraentes, imaginavam estar perdendo o amigo simplesmente pela falta de companhia. Não fariam falta mais tarde. Era imprescindível um tempo consigo mesmo.


Um momento de introspecção. Não, de auto-conhecimento. Uma fase pela qual apenas os aspirantes a sábios passam; e aproveitam; e sofrem.

Sofrimento necessário para adequar pensamentos adversativos à realidade pungente.
Se voltou para dentro.

Não havia certezas de conhecer a si mesmo ou de encontrar caminhos, mas o certo é que tentou. Só ele poderia saber a dor e a felicidade de ser quem é.



W.A.M.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Pandora

Há momentos nos quais não se pode preencher um vazio. Principalmente aquele que nunca foi preenchido. E a culpa é sua.
Já faz tempo que você me trancou em uma caixa de piadas vazias. Em uma capa de sarcasmos e defesas invisíveis que remanescem naturalmente. Sonhar e amar foi meu único pecado.
Você nem se lembra mais como é buscar um remédio para esse vazio. Está bem com o silêncio. Prefere mesmo o nada oferecido por outrem. Busca esse nada e se sente bem.
Mas no fim do dia, sempre faltará algo. Eu continuo aqui. Só você pode libertar-me.
Quando a solidão der espaço ao aconchego, me procure dentro da caixa. Ainda estou lá.

Ass.: Você.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Infância adormecida


O dia de trabalho foi pesado. Uma correria sem fim em meio a um trânsito que não colaborava. Mesmo assim encontrei um tempo na minha agenda de reclamações para olhar pela janela do carro.

Lá embaixo, pouco além da estrada, crianças jogavam futebol. Alheios às irritantes buzinas e aos esbravejadores adultos, amargos adultos que passavam ao lado. Um menino gritava com o outro apontando insistentemente para uma marca imaginária de pênalti na grama que se esgueirava em meio a terra. Era sua única preocupação.

Nem mesmo os pés descalços no chão cheio de buracos e lama irritava aqueles garotos que só queriam brincar em um início de noite de uma quinta-feira. Se eles soubessem o que perderão em menos de 10 anos teriam deixado até mesmo o pênalti de lado.

Em pouco tempo, os moleques virarão rapazes. Virá o vestibular, a escolha da profissão de uma vida, o primeiro trabalho, garotas partirão seus corações, amargurados farão o mesmo a outras, os seus carros serão mais números em meio a uma superlotação de um trânsito ainda mais caótico.

Aquele pênalti representava um bobo problema em meio a beleza da infância que se perderia entre dilemas e amarguras. Fico me perguntando o que eles fariam e o soubessem. Um dia fui uma menina inocente e cheia de sonhos, meu maior problema era chegar em tempo para formar o time de vôlei na escola. Nunca percebi que os lugares que almejaria ocupar mais tarde me trariam desafios maiores.

Semana passada encontrei um fio de cabelo branco em meio à minha ruiva juventude. Ele poderia ter sido adiado não fosse aquele bendito jogo de vôlei. Agora eles multiplicar-se-ão a cada buzina e a cada vez que eu vir crianças brincado descalças e não puder fazer o mesmo.


W.A.M.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Orfã em um cemitério de livros esquecidos



Ontem fiquei orfã. Não é a primeira vez. Já perdi as contas das vezes em me senti desprotegida, furtada desse amor paternal. Ontem fiquei orfã de um livro.

Quando leio, busco algo mais do que um mero passatempo. Busco proteção naquele cheirinho gostoso de novo que, para mim, assemelha-se a um abraço de mãe. Ao ler me torno personagem. Já fui noiva do Drácula, me perdi em um país das maravilhas, soltei pipas no oriente, caminhei na Alemanha em pleno Holocausto e fui uma menina que roubava livros. Investiguei assassinatos em cidades americanas, visitei o Louvre, fui guerrilheira em Cuba. Na terra média me senti em casa e em barcelona, fui assassinada. No fim de cada jornada, os perdi e me perdi.

O sentimento é de perda e os danos irreparáveis. Já refiz alguns dos mesmos caminhos, mas nada se compara ao primeiro toque nas páginas imaculadas, ao primeiro contato com pessoas que, por dias, viram família. Família do tipo acolhedora que nunca reclama, mas abre os braços e produz palavras de conforto sempre que é preciso.

Machado de Assis, Oscar Wilde, Neil Gaiman, Stieg Larsson, Nelson Rodrigues, J.R.R. Tolkien, Truman Capote... pais que amei. Marion Zimmer Bradley, Clarice Lispector, J.K.Rowling, Raquel de Queiroz... mães que me acolheram.

Eles, entre tantos outros, se foram. Voltaram em outros enredos, mas no fim sempre me deixam. Desolada, inúmeras vezes em pranto, marco alguns momentos do meu caminho com gotas de lágrimas que se espremem entre palavras e afagos.

Estou orfã. Dessa vez de Zafón. Chorei com Miguel Moliner, me identifiquei com Daniel Sempere e Nuria Monfort, aprendi a amar Fermín Romero de Torres mesmo que fosse em uma Sombra do Vento.

Estou de luto que logo cessará, pois já tenho um encontro marcado com Larsson onde espero me sentir uma menina que brinca com fogo. Mesmo assim a Alemanha de Zusak ou mesmo a floresta de Sherwood, de Barie, nunca serão deixados de lado. Eles estarão em uma prateleria reservda para mim no cemitério dos livros esquecidos que me foi apresentado por Zafón.

Aprendi com um deles que alguém só morre quando é esquecido. Eu estou orfã, mas de pais imortais.

W.A.M.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ponto de vista



Era um dia cinza. Gotas serpenteavam pelo vidro do carro lavando as mensagens empoeiradas que as crianças deixaram mais cedo. Fascinado pelo clima ameno, quase frio, que muito o lembrava Londres, Henrique dava uma volta pela parte nobre da cidade onde se concentrava seu mundo.

Com o pé fundo no acelerador distanciava-se de casa em direção a de sua namorada mal percebendo que deixava pelo caminho rastros de transeuntes mais ensopados do que gostariam estar. A única preocupação era comer o brigadeiro que sua 12ª namorada havia prometido e mostrar-lhe os tênis que trouxera da última viagem à França.
Como adorava aquela chuva.

Era uma dia cinza. Gotas serpenteavam pelo vidro do carro lavando as mensagens empoieradas que as crianças deixaram mais cedo. Zé não notou. Os fios de chuva misturavam-se ao sal de suas lágrimas enquanto ele se segurava no topo daquele automóvel na periferia da cidade.

Zé fora arrancado da cama ainda de madrugada com os gritos desesperados dos filhos. A parede de seu casebre cedera e ali mesmo perdera parte de seu coração. O caçula se foi. Não pôde fazer muito, se pôs logo a nadar para salvar a mais velha, mas não adiantou.

Mais tarde, esperando o resgate, só conseguia pensar na ruína do que construíra para dar o mínimo conforto aos filhos e no trabalho que provavelmente já havia perdido. Não precisaria mais de nada daquilo. Não tinha mais filhos, só lhe restava a vida. A vida e a chuva.
Como detestava aquela chuva.

W.A.M.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

No cabo da enchada


O cabo da enchada calejava as mãos e o sol acentuava as marcas de expressão que ornavam-lhe a testa. Era necessário. Ao final de cada dia tinha que levar o sustento para casa. Não era grande coisa. Pequena, de taipa, com janela e porta de madeira e os fundos levavam a um pequeno terreiro que abrigava as magras galinhas. O saldo daquele dia não foi o necessário para alimentar a todos. Apanhou com o chicote dos jumentos. Antes dos 25 seria o mais velho de uma família de 16 irmãos e, naquele ano, com apenas 8, não podia agradar o patriarca da família e levava as marcas da desaprovação consigo, fincadas pelo corpo.

Aos 17 fugiu de casa. A rebeldia da adolescência não foi o estopim, mas sim a sede de aprender. O rapaz queria terminar os estudos e partiu sem rumo deixando a família que tanto amava para trás e as pilhas de livros que, sem ele, serviriam apenas como peso para porta naquela casa de semianalfabetos. Às vezes ele pensava não pertencer àquela família não fosse o enorme amor que transbordava em seu peito por todos aqueles pirralhos e por seus pais que não aguentou ver separados.

A vida na cidade foi difícil. Moradia apenas de casa em casa dos amigos que fazia nos bares. Aprendeu a fumar para enganar o frio e a beber para enganar a dor da alma. Foi em um desses bares, ao comprar o velho cigarro, que conheceu a bela loira de olhos verdes que tanto lembrava sua mãe.

O namoro não tardou a começar e, com a ajuda dos pais da garota - quase seus pais também - terminou os estudos e fez um curso de ciências contábeis. Não era o bastante. O rapaz era um gênio para os números, mas o que amava mesmo eram as letras. As letras e a moça de pequenos olhos verdes.

Fugiu de novo. Dessa vez para casar longe da pompa que os eventos da época pediam. Àquela altura tinha um emprego estável e mandava dinheiro para pelo menos 7 de seus 16 irmãos. Foi traído pelo coração. Os irmãos o usavam como uma marionete. Antes do primeiro ano de casamento ele já era frio, endurecido pela enchada e pelas traições. Até o dia que conheceu outra mulher. Uma pequena bola de neve com grandes olhos verdes e cabelos negros.

Nunca quisera filhos e se viessem, teriam de ser homens. Doce engano que esvaiu-se diante da pequena. A amou como nunca amou ninguém, mas o coração tem caminhos que prega peças no próprio destino.

Quando a criança tinha apenas um ano, ele foi despedido e, a partir de então, o homem que tanto primara por sua educação e que tanto gostava de trabalhar, se viu sem chão. Nunca pensou sentir falta da roça...

Os anos passavam e os únicos empregos que ele, com idade avançada para o mercado de trabalho, conseguia eram escravos, tortuosos para um homem maduro. O álcool que entrou em sua vida como um passatempo, virou o melhor amigo. O único amigo.

Em casa ele e a mulher viraram estranhos sob o mesmo teto e a criança foi culpada pela mente fria daquele homem. Envelhecido, cansado, uma pedra de gelo, ninguém consguia suportar mais que 10 minutos em sua presença. A cada dia a vida o deixava mais só e menos feliz.

Distanciou-se da filha. Não saíam mais palavras doces de seus lábios secos e os abraços... nem lembrava a sensação de envolver os braços em alguém. A vida não fora fácil e o tempo o castigou. Pensava que felicidade era um adorno que os ricos compravam facilmente, mas que era impossível consegui-la de graça.

Até que a viu. A criança cresceu com sede por leitura, a mesma inerente a ele, e ávida por saber. Uma vontade congratulada com um canudo conseguido com o esforço que ele nem lembrava existir.

Não conseguiu chorar, já não mais podia, mas naquele momento sentiu a maior felicidade do mundo. Enfim, ele havia feito algo certo.

W.A.M.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sem Vagas

Inerte. Uma estátua de mármore fria e dura. Mal parecia a mulher que os outros a imaginavam ser. Assim ela permaneceu, sem forças, não conseguia se mover.
Pela face pálida, lágrimas rolavam sem som, sem aroma, a deixando cansada do gosto salgado que banhava os lábios. Nem sabia porque chorava.
A TV ligada quebrava o som do vento sorrateiro que espiava pela porta e lentamente acariciava- lhe a pele. Ela não sentia, nada sentia. .
Certa vez lhe disseram que seria fácil, mas estava convencida, seu coração não tinha espaço para mais ninguém, ele já estava totalmente preenchido por ela mesma - apesar da inutilização da vaga.
Estava trancado, lacrado com uma placa alertando o perigo aos forasteiros. Ela não sentia mais nada e só se deu conta quando tentou sentir. Já era tarde.

W.A.M.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O presidente dos povos

Deodoro, Floriano, Prudente, Campos Salles, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Brás, Epitacio Pessoa, Artur Bernardes, Washington Luiz, Getulio Vargas, Gaspar Dutra, Getulio Vargas, Café Filho, Juscelino, Janio Quadros, João Goulart, Castelo Branco, Costa e Silva, Medici, Ernesto Geisel, João Figueiredo, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, FHC e finalmente Luiz Inacio Lula da Silva.




Dos 28 homens que já presidiram a República Federativa do Brasil apenas três chegaram ao patamar de mitos: Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek de Oliveira e Luis Inácio Lula da Silva.

O primeiro, o "pai do povo", transformou os trabalhadores em cidadãos com direitos [memo que essa medida tenha sido tomada para afastar a crise de superprodução e não exatamente pelos trabalhadores]. O segundo fez o país crescer 50 anos em 5 e nos presenteou com Brasília. O terceiro mostrou-se um segundo "pai do povo".

Nunca os grandes empresários investiram tanto e a classe média ganhou tantos membros emergentes. A dívida externa foi paga, o PIB teve seu maior crescimento, nunca um presidente teve tamanha empatia e falou direto nos olhos do povo - quem não lembra do primeiro dia de trabalho de Lula, há 8 anos, parando para cumprimentar o povo antes de subir a rampa.

O presidente operário tem tudo para superar seus precedentes. Getúlio ficou manchado por um populismo forçado e pela ditadura implantada no Estado Novo. Juscelino teve o governo manchado pela inflação provocada pela construção de Brasília.

Escândalos, mensalões, nada atingiu a reputação do presidente que disse não à ONU e foi considerado por uma revista americana o maior líder mundial. Os números são favoráveis a Lula. Ele terminou o mandato com 87% da aprovação popular. O maior índice da historia superando inclusive o mito Nelson Mandela (84%) e eu não creio ser necessário dizer o que o primeiro presidente negro da África e seu movimento antiapartheid fizeram por aquele continente.

Getúlio teve que sair da vida para entrar na história. Juscelino sofreu um acidente de carro de origens duvidosas para provocar comoção nacional. Luís Inácio simplesmente entregou a faixa à primeira presidente mulher do país (eleita por mérito dele) e tem tudo para viver uma longa vida assistindo de camarote o rumo que levará o novo país que ele ajudou a construir.

Lula viverá até seu último dia sendo lembrado e será imortalizado após sua morte. Ele não precisou morrer para virar o maior mito que o Brasil já teve e o maior líder da história mundial.
W.A.M.