sábado, 28 de março de 2009

Alguns chicletes não perdem o gosto

As fotos empoeiradas aglomeram-se dentro do velho baú, as únicas que restaram da última enchente. Elas retratam momentos de glória do velho homem. O ídolo que insiste em se esconder no anonimato da poltrona de veludo marrom.

Os fios grisalhos de liso cabelo são, cada um, marcas contundentes de suas vitórias, dos instantes nos quais esteve cara-a-cara com gol. Hoje, só restam momentos petrificados em frio papel fotográfico e em manchetes de jornal. Ele guarda essas fotografias como relíquias de uma vida da qual ele fugiu por medo de ser ele mesmo, temendo que o enxergassem na reclusão de seu ensurdecedor medo da antiga paixão.

A quase total falta de audição ocasionada pelo beijo violento de sua redonda e mais amada amiga, o fez outra pessoa: resignado e amedrontado. Mais uma vida mudada por uma doce vingança. Depois de tanto chutar, ela o chutou e isso ele não pôde suportar. Não é assim mesmo que sempre acaba?

O único contato com o mundo exterior faz-se pelo jornaleiro e dentre os jornais e revistas assinados, uma chama-lhe atenção pela manchete: "O 10 maiores artilheiros do Brasil"! Ele busca pela matéria, mais por curiosidade que por qualquer outro sentimento e de sopetão tem um choque. Lá está ele, entre os 10, entre os maiores craques da história.

Um filme começa a transpassar-lhe a mente e aparece lá, em frente a seus olhos. As vitórias. Os gols. Os títulos. A glória. Ah! A glória! Ele havia esquecido o quão doce era aquele sentimento. Aquela palavra que tão bem deleitava-se em seus pés e o impulsionavam a driblar como poucos fizeram.

Sentado na velha poltrona de tecido marrom ele consegue escutar. Escuta a narração daquele gol no parque antártica e a vibração da torcida em um dos momentos mais sublimes de sua vida. A glória.

W.A.M.

P.S.: Humilde homenagem a Everaldo Moraes, o fenomenal "Chiclets". Um dos maiores ídolos da história do Palmeiras e do Ceará e que me recebeu docemente em sua primeira entrevista em anos de aposentadoria. Obrigada pela chance de compartilhar comigo alguns de seus infindáveis momentos. Posso dizer que ele é ainda muito maior que seu próprio talento [e eu não achei sequer UMA foto dele na internet...].

Um comentário:

Suyanne Correia disse...

gostei desse texto... mas tô na ânsia pelo próximo...
beijo grande Wanzinha do meu coração. Saudades muito muito forte de você e das nossas brincadeiras...
beijo em seu coraçaõ...