quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Única


Todo dia ela sentava lá, na relva verdinha, para ficar olhando pro céu. A cidade inteira estava ocupada demais àquela hora, mas não podiam deixar de se questionar: "O que uma jovem menininha fazia ali olhando pra cima"?

Ela gostava do cheiro de mato, deitava naquele pedacinho verde da cidade e ficava dando nome às nuvens, advinhando suas formas. Os outros, quando olhavam pra cima para reclamar do calor, viam o cinza da poluição, mas ela não. Ela via animais, os namorados de mãos dadas em um banco de praça, corações. Os únicos que conseguiam ser maiores que o que ela carregava no peito.

Ninguém conseguia entender onde aquela garotinha conseguia aqueles sorrisos tão... sinceros. As bochechas morenas quase escondiam os olhos. Não porque fossem tão avantajadas, grande mesmo era o sorriso que fazia aqueles olhos parecerem apenas dois risquinhos finos e brilhantes.

A cidade se matava aos poucos através de suicidadas que abdicavam da própria vida em busca da felicidade nos mirrados talões de cheque que receberiam após um mês intenso de trabalho e para a garotinha nada daquilo tinha importância. Ela preferia trabalhar na perfeição do sorriso do que na perdição da alma.

Como se o mundo inteiro não existisse, ela deitava todas as manhãs naquela grama com os grandes óculos escuros e o tênis sujo, apenas sentindo o que muitos nem sabiam ainda existir: a felicidade.

O cabelo desgrenhado emoldurando um lindo rosto que tinha ânsia de viver, mas não tinha pressa. E aquele largo sorriso... quem fosse àquela bela menina encontraria a paz apenas em vê-la sorrir. Uma doce sinceridade e um abraço apertado dela tinham o poder de desarmar as guerras internas, encerrar os problemas, ensinar a felicidade.

A voz? A voz faria qualquer um acreditar em anjos. Se anjos cantassem eles soariam como ela. A menina cantava a vida exatamente como esta deveria ser. Doce, apesar de seus tons altos e baixos, afinada, melodiosa, feliz...

A garota era única, mas não o queria ser. Altruísta e doce, cantava em alto e bom som e, quem desperdiçava um minuto ouvindo aquela apaixonante melodia em meio às nervosas buzinas, acordava sem olheiras no outro dia após uma feliz noite de sono.

Ela tinha o poder e o passava adiante. Bastava medir a vida em amor.

[Para uma amiga especial que pediu de aniversário algumas palavras escritas por aqui, muito embora este humilde texto e qualquer outra coisa que eu escreva nunca seja o que você realmente merece. Feliz aniversário, Karla Brito. "You're one of a kind"]

W.A.M.

2 comentários:

Doryan disse...

Por vezes, fazemos coisas que poucos entendem...

Rafael disse...

Amo teus textos.