quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O peso da camisa




O jornalista esportivo não nasce do nada, muito menos da necessidade de ocupar uma vaga na redação. Ele nasce do nadar, do brincar, do futebol com tampinha jogado no recreio, da carimba jogada na rua, das disputas de vôlei no colégio. Nasce das transmissões de Fórmula I do Ayrton Senna ou do aproveitar que seu pai está assistindo futebol e dar aquela espiada.

Um jornalista esportivo nasce ainda criança e forma-se antes mesmo de ingressar na faculdade, pois esporte é mais do que vocação, mais do que relatar os fatos em uma matéria corriqueira, é paixão. É não perder o racha do final de semana, é ter um piloto que morreu cedo como ídolo, é ter assistido, ainda criança, as partidas do Guga quando os adultos não tinham o mínimo saco, é torcer por um time a ponto de uma camisa deixar de ser uma simples vestimenta e ter um peso tão grande quanto qualquer parte do seu corpo.

É... Um jornalista esportivo desponta ainda criança quando, assistindo àquela partida de futebol, que nem ao menos é uma final de campeonato, chora. Há volta do sorriso, da conquista de um título, mas não há volta do choro. As lágrimas lavam a alma e dão vida a algo maior. Está escrito. Basta sofrer uma vez, aquele é o time que o seguirá por toda a vida e que, com uma dor imensa no peito, a criança terá que esconder anos mais tarde pela ética do jornalismo.

Um jornalista esportivo de verdade não está disposto apenas a narrar fatos, relatar momentos e expor números. Esse é o de política. O esportivo sente o momento e trata o estádio de futebol como um mixto de emoções a serem verbalizadas mais tarde em uma folha de papel. É preciso sensibilidade e muita paixão. A mesma paixão que se tem pela camisa que ficou guardada no armário empoeirado, escondida e amarelada. A mesma paixão que só aumentou naquela batida fulminante que assistiu ao vivo pela TV. A mesma que te faz chorar a cada conquista daquele ex-levantador vitorioso.

Jornalismo esportivo não é um boletim de ocorrências, é a poesia cantada pela torcida que apenas o mestre Nelson Rodrigues teve a ousadia e perspicácia de traduzir. Deixemos o B.O. para o jornalismo policial e que saia a literatura que nos formou e está há tanto tempo aprisionada ao lado da camisa, seja lá quais forem as cores dela.

W.A.M.

Nenhum comentário: