quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um longo dezembro




Dezembro tem um quê de desgosto, de desejos que ficaram pelo caminho e talvez possam ser supridos a partir do "próximo mês". É tempo de arrependimentos e arrebatamentos. De olhar para trás como se possível fosse resumir 365 dias em um único sentimento sobressalente.


O impasse está em conseguir e o erro está em fazê-lo. Em um ano muito pode mudar tanto quanto você pode continuar estagnado no mesmo lugar. É um misto de sentimentos. Alegrias que, apesar de dividirem o mesmo nome, foram causadas por diferentes fatos.rTRristezas uqe fizeram chorar, calar, engrandecer, ou morrer mais um pouquinho por dentro.


Em dezembro tudo pode ficar mais claro ou negro como o ébano. Você pode se arrepender das palavras mal colocadas e gestos incompreendidos. São trinta e um dias de auto-conhecimento.


Esse é um mês misterioso. Nunca se sabe que sentimentos irão emanar de seus pensamentos, às vezes é melhor até proibir-se de pensar, afinal em dezembro passado isso o fez ficar mal... Só que nenhum dezembro é como o outro.


O tempo é de renovação. É de enumerar os erros, coloca-los sobre a mesa e destrui-los para que eles não se repitam. O mesmo deveria ser feito com as alegrias. Os sorrisos divididos, as vezes nas quais alguém confiou em você, os chocolates que comeu, a felicidade que proporcionou... Agora é coloca-los na estante e deixá-los lá sempre lembrados com carinho, mas deixando viver novos bons momentos no ano vindouro.


O ano passado é passado e nenhum erro ou nenhuma alegria é idêntica a outra. Dezembro proporciona diversas emoções porque todas resolvem reaparecer no final para dizer um "adeus" ou um "até breve". A única que permanece é a esperança de que em janeiro comece uma nova era na qual a vida possa ser medida em amor.





W.A.M.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Toc-toc

Não adianta sair para procurar a felicidade. Para achá-la, tem que entrar.
Entrar em si. É dentro de você que ela deve estar.
Dorminhoca, preguiçosa, hibernando a espera do verão.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Rise up this morning smiling with the rising sun

A menina dormiu com a lua
O sol matutino traria a certeza de uma nova era
e as próximas estrelas mal poderiam esperar pela mulher que chegaria




quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Será?

Que graça teria uma vida de certezas?
A única certeza da vida é mórbida. São as dúvidas que fazem viver.
Durmo sem saber se ainda acordo. Acordo com a certeza de que ser feliz é estar vivo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Palavras destruídas


A névoa branca encobria as luzes de natal e deixava o fim de tarde com o aspecto da derradeira hora da noite. O frio congelava os ossos quase impedindo os transeuntes de locomoverem-se. Os joelhos de Johnantan ardiam em dor, mas caminhar era necessário. Ele tinha um propósito, um ponto de chegada que prometia acalentar seus pensamentos. No caminho, as calçadas úmidas e rachadas tornavam-se obstáculos insistentes em derrubar os fracos corpos que se assemelhavam a zumbis a beira de um apocalipse.


Após tropeços Johnantan avistou um prédio ainda turvo ao longe. Era alto e de um cinza antigo e sem brilho que, nas extremidades adornadas com gárgulas assustadoramente esculpidas, se tornava mais escuro, quase negro. No topo da torre principal, um vitral quebrado deixava ainda intacto o rosto de um homem taciturno, curvado sobre um livro à cabeceira de uma escrivaninha como se o amigo de grossa capa fosse o único permitido a ultrapassar a introspecção de seus pensamentos. "Baudelaire" - pensou ele. Sim, Charles Baudelaire com um enorme buraco no meio da cabeça calva.


Abaixo, a gigantesca porta de madeira afugentava forasteiros que não entendessem o valor do que ela resguardava. Apesar da aparência de algum lugar que facilmente poderia ter sido arquitetado por Bram Stoker, aquele prédio, em seu gélido invólucro, oferecia abrigo a Johnantan.


De dentro do casaco marrom, amarelado pelo tempo que ficou guardado durante o verão, ele tirou a chave. Maior do que as comuns, do que aquelas que ele mesmo carregava e perteciam ao seu apartamento. Era trabalhada com rococós, feita de metal preto fosco, perfeita para a fechadura da pesada porta. Uma vez dentro, o frio foi embora como se fosse afugentado pelo espírito de algum curumim de cabeleira flamejante.


A iluminação escassa foi reforçada pela lamparina acesa. E assim, dispondo-a perto da face, pôde contemplar o tesouro mais precioso que o Baudelaire depredado guardava dia após dia: a maior coleção de livros que aquela cidade vira.


A biblioteca municipal estava há muito abandonada. Não sabia se pela aparência tenebrosa, pelo descuido com os livros, ou se a população preferia lê-los online em seus e-books modernos. O fato é que estava a mercê das traças. Estas detruíam diariamente pelo menos dez palavras de cada publicação que outrora levara alguém em uma viagem por suas páginas. Dezenas de estantes abrigavam milhares de clássicos abandonados.


Johnantan, o antigo bibliotecário, gostava de passar as noites ali, lendo histórias repletas de aventuras e lendo, principalmente, as dedicatórias no início de cada exemplar doado. Em um deles, uma em especial era lida todos os dias:


"Que as brumas lhe guiem até este santuário nas noites de frio. Aqui está todo o calor que sua alma precisa".



W.A.M.


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Única


Todo dia ela sentava lá, na relva verdinha, para ficar olhando pro céu. A cidade inteira estava ocupada demais àquela hora, mas não podiam deixar de se questionar: "O que uma jovem menininha fazia ali olhando pra cima"?

Ela gostava do cheiro de mato, deitava naquele pedacinho verde da cidade e ficava dando nome às nuvens, advinhando suas formas. Os outros, quando olhavam pra cima para reclamar do calor, viam o cinza da poluição, mas ela não. Ela via animais, os namorados de mãos dadas em um banco de praça, corações. Os únicos que conseguiam ser maiores que o que ela carregava no peito.

Ninguém conseguia entender onde aquela garotinha conseguia aqueles sorrisos tão... sinceros. As bochechas morenas quase escondiam os olhos. Não porque fossem tão avantajadas, grande mesmo era o sorriso que fazia aqueles olhos parecerem apenas dois risquinhos finos e brilhantes.

A cidade se matava aos poucos através de suicidadas que abdicavam da própria vida em busca da felicidade nos mirrados talões de cheque que receberiam após um mês intenso de trabalho e para a garotinha nada daquilo tinha importância. Ela preferia trabalhar na perfeição do sorriso do que na perdição da alma.

Como se o mundo inteiro não existisse, ela deitava todas as manhãs naquela grama com os grandes óculos escuros e o tênis sujo, apenas sentindo o que muitos nem sabiam ainda existir: a felicidade.

O cabelo desgrenhado emoldurando um lindo rosto que tinha ânsia de viver, mas não tinha pressa. E aquele largo sorriso... quem fosse àquela bela menina encontraria a paz apenas em vê-la sorrir. Uma doce sinceridade e um abraço apertado dela tinham o poder de desarmar as guerras internas, encerrar os problemas, ensinar a felicidade.

A voz? A voz faria qualquer um acreditar em anjos. Se anjos cantassem eles soariam como ela. A menina cantava a vida exatamente como esta deveria ser. Doce, apesar de seus tons altos e baixos, afinada, melodiosa, feliz...

A garota era única, mas não o queria ser. Altruísta e doce, cantava em alto e bom som e, quem desperdiçava um minuto ouvindo aquela apaixonante melodia em meio às nervosas buzinas, acordava sem olheiras no outro dia após uma feliz noite de sono.

Ela tinha o poder e o passava adiante. Bastava medir a vida em amor.

[Para uma amiga especial que pediu de aniversário algumas palavras escritas por aqui, muito embora este humilde texto e qualquer outra coisa que eu escreva nunca seja o que você realmente merece. Feliz aniversário, Karla Brito. "You're one of a kind"]

W.A.M.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Deixando viver




Eu ainda sou uma aprendiz na arte de amar.
Estou aprendendo a amar no outro cada qualidade e cada defeito.
Ainda estou aprendendo que cada um tem um jeito peculiar
e a sentir-me amada de qualquer jeito.

Estou tentando ler o que dizem as mãos suadas, as sílabas gaguejadas,
os sorrisos grátis, as bebedeiras compartilhadas.
Estou aprendendo com as decepções que eu também decepciono.

Estou aprendendo que o amor é um sentimento único.
que não deve ser menos que um passo torto de alguém.
Todos tropeçam, o trabalho de quem ama é tirar a pedra do caminho
quando isso não for possível, por mais doloroso que seja, relevem.

A cada dia aprendo que a vida é tão curta para esquecer
Esquecer o amigo porque não gostou de uma atitude
Impedir um sentimento de crescer
As pessoas são singulares e o amor é infinito

o segredo está em viver e deixar viver
e, principalmente, aceitar
Não aceitar seria esperar que todos fossem iguais a você
mas não há tantos espelhos que se possa comprar

Estou aprendendo que amar é complicado
Então, quando encontrar alguém
lembre que fácil é deixar-se ser amado.


W.A.M.





sábado, 30 de outubro de 2010

Tão bem só! Mas tão só...

Deu trabalho limpar a sujeira. Não importa o quanto limpasse, continuaria sujo. Todos os espelhos estavam quebrados, mas assustava ver que os cacos continuavam refletidos no chão.
A casa agora estava livre daquela feia, gorda, grossa, amarga como chá de tia velha. A visão mais real vindoura de quem melhor me conhecia: eu mesma.
Olhos vermelhos de dor, voz rouca de clamar ajuda de quem melhor poderia ajudar... mas não estava a disposição. Nunca tinha certeza de resposta.
Não sabia telefones decorados nem tinha na agenda algum repetido diariamente. Nada de certezas... apenas a de que estava rodeada por vários "irmãos" e isso deveria bastar.
Não conseguia ter companhia. Estava bem só. Mas me sentia tão só...

W.A.M.

domingo, 10 de outubro de 2010

Blue moon...




A noite cansada tinha uma face acalentadora, a outra face em contrapartida, torturante. Eu fazia parte dela em todas as suas formas. Primeiro veio a angustiante tortura, arrancando-me cada fio de dignidade no fim do esquecido amor-próprio. Se dói? Só quando tento respirar. Neste ponto, respirar era tentador. Tenta... dor... O ar viajava pelo meu corpo tentando extrair de mim os mais pulsantes gritos. Preferi não abrir a boca. Em silêncio a dor é mais eficaz.

Naquela torturante noite procurei abrigo e ela me acolheu. Acalentadora, confortante e dolorosa noite. Por quanto tempo suportaria? Enquanto houvesse pulso. O álcool tornou-se sem graça, uma solução fulgaz para problemas duradouros. Os amigos foram se distanciando... Cansados da frequência com a qual essas noites vinham. Sempre que o sol se punha...

Noite dolorosa e confortante. Somente a luz da velha lua parecia sorrir para mim. Ou de mim.

W.A.M.

sábado, 18 de setembro de 2010

Velha culpa




"Lá vai a velha dondoca!", era assim que referiam-se a mulher que morava na cobertura. Ela usava scarpin preto e camurça, camisa branca de seda e saia azul-marinho que não deixava aparecer nem os joelhos. Deveria ter seus quase 60 anos e os óculos escuros Prada unido ao loiro cabelo teso de laquê apenas reafirmavam os apelidos que corriam pelos apartamentos: dondoca, chata, velha alcoviteira, rica besta, eram apenas alguns deles.

Amigos, não tinha, nem de pessoas gostava. As únicas com quem tinha o "desprazer" de ter contato eram as do seu condomínio e não gostava delas. Naquele dia não seria diferente. Na garagem o bad-boy escutava Black Sabbath em seu carro velho, com um cigarro na mão, cerveja na outra e tatuagens a mostra. Ah, como ela odiava cigarros, rock e tatuagem. Para o álcool abria uma excessão, não podia julgar pelos seus prósecos de cada dia.

No elevador a doméstica exalava cebola, pimentão, orégano. Horrível! Não aguentava o odor da pobreza. Fazia questão de trancar-se no quarto enquanto a casa era organizada e a comida não ficava pronta.
Enfim, chegava à cobertura e pretendia de lá não mais sair. Livrou-se da camisa de seda e do scarpin de veludo assim como da saia. Despiu-se para si e ficou em silêncio.

Por dias perguntaram-se os vizinhos onde estaria a velha dondoca que nunca mais passara com seu salto agulha para ignora-los. Ela reapareceu em uma manhã de domingo quando, ao abrirem a porta da cobertura, lá estava ela serena e nua com um rico lençol de seda em volta do pescoço.

Embaixo da bandeja de prata na mesinha de centro, a carta curta e grossa:
"Não era vocês que não aguentava mais. Era a mim. Era a mim não sendo aguentada por ninguém. Os livro de um estorvo e me liberto. Adeus... a quem puder interessar. Perdão".

W.A.M.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O peso da camisa




O jornalista esportivo não nasce do nada, muito menos da necessidade de ocupar uma vaga na redação. Ele nasce do nadar, do brincar, do futebol com tampinha jogado no recreio, da carimba jogada na rua, das disputas de vôlei no colégio. Nasce das transmissões de Fórmula I do Ayrton Senna ou do aproveitar que seu pai está assistindo futebol e dar aquela espiada.

Um jornalista esportivo nasce ainda criança e forma-se antes mesmo de ingressar na faculdade, pois esporte é mais do que vocação, mais do que relatar os fatos em uma matéria corriqueira, é paixão. É não perder o racha do final de semana, é ter um piloto que morreu cedo como ídolo, é ter assistido, ainda criança, as partidas do Guga quando os adultos não tinham o mínimo saco, é torcer por um time a ponto de uma camisa deixar de ser uma simples vestimenta e ter um peso tão grande quanto qualquer parte do seu corpo.

É... Um jornalista esportivo desponta ainda criança quando, assistindo àquela partida de futebol, que nem ao menos é uma final de campeonato, chora. Há volta do sorriso, da conquista de um título, mas não há volta do choro. As lágrimas lavam a alma e dão vida a algo maior. Está escrito. Basta sofrer uma vez, aquele é o time que o seguirá por toda a vida e que, com uma dor imensa no peito, a criança terá que esconder anos mais tarde pela ética do jornalismo.

Um jornalista esportivo de verdade não está disposto apenas a narrar fatos, relatar momentos e expor números. Esse é o de política. O esportivo sente o momento e trata o estádio de futebol como um mixto de emoções a serem verbalizadas mais tarde em uma folha de papel. É preciso sensibilidade e muita paixão. A mesma paixão que se tem pela camisa que ficou guardada no armário empoeirado, escondida e amarelada. A mesma paixão que só aumentou naquela batida fulminante que assistiu ao vivo pela TV. A mesma que te faz chorar a cada conquista daquele ex-levantador vitorioso.

Jornalismo esportivo não é um boletim de ocorrências, é a poesia cantada pela torcida que apenas o mestre Nelson Rodrigues teve a ousadia e perspicácia de traduzir. Deixemos o B.O. para o jornalismo policial e que saia a literatura que nos formou e está há tanto tempo aprisionada ao lado da camisa, seja lá quais forem as cores dela.

W.A.M.

sábado, 11 de setembro de 2010

Dependence day




Hoje é o dia que vai destruir nossos corações. Ou pior, vai trazer a tona tudo que há de bom neles. Por que precisamos de um bom coração para parecermos vivos ou, pelo menos, de alguém dentro dele? Não é possível ser sem amar? Boa pergunta, né?

E quando você sofre por não amar alguém e precisar amar para sentir-se vivo? Que dor. Mas quem irá dizer que é dor maior que a de quem realmente ama.

O coração constrói barreiras que a razão reforça. A razão constrói barreiras que o coração destrói. Há uma linha tênue entre os dois e apenas um pode deter o outro.

São como torres gêmeas prontas a serem destruídas a qualquer momento pela dor de simplesmente não sentir. E todos sabem o que acontece em 11 de setembro.


W.A.M.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Alprazolam

Tinha um quê de melancolia, a face úmida, uma cruz invisível sobre os ombros. Tanto que andava mais curvada, as dores pulsavam, os soluços substituiam a voz que, quando saía, era ainda mais grave que o normal.

Tinha tudo. Família, amigos, trabalho estável e estudo, mas nesse quebra-cabeças faltava alguma peça e as outras já estavam corroídas pelo tempo. Desilusões, problemas, desgastes, cansaço... eles apareciam para substituir a razão de estar vivo.

Cabeça dolorida, olhos ardidos, voz embargada e uma sincera vergonha de si. Vergonha de saber que nada vai mudar se continuar chorando, vergonha de por algum momento não encontrar forças para levantar, vergonha de cada um dos sentimentos retidos no peito.

Não sabia porque continuar, mas tinha uma certeza, se decidisse ir em frente teria alguém ao seu lado. Agora era respirar fundo e se agarrar a isso.

Se amor não fosse o bastante, seria melhor desistir de si.

W.A.M.

domingo, 5 de setembro de 2010

Boom!

A razão para viver não é algo que se ache em manuais ou livros da faculdade, só se aprende vivendo. O problema é quando a vida vai passando pelos seus olhos e você não consegue tocá-la, vive-la virou tortura, nada é novo ou parece valer a pena.
Sentir-se trocado ou desvalorizado só é possível quando está cercado de um vazio cheio de pessoas. Nada parece valer a pena, nem mesmo um velho porre de vodka pode encher seu interior.
Você precisa de amor. Não o de outrem, mas de você mesmo. Quando o amor próprio vem primeiro é mais fácil amar e sentir-se amado.
Se você não se ama, não conseguirá deixar que lhe amem. O problema é que sentimentos não são controláveis, se o fossem não seriam sensações e sim equações.
Ninguém é uma equação, mas se não for possível equacionar, o sentimento explode você por dentro. Aí é tarde demais.
Boom!
Tarde demais...

W.A.M.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A droga do amor




Para os homens há dois grupos de mulheres: a lícita e a ilícita.
A lícita é aceita pela sociedade, principalmente pela mãe dele. É boa, atenciosa, carinhosa, capaz de viver uma relação estável, e, principalmente, fazê-lo feliz. Fácil demais...

Eles não querem um solo para pisar firme, mas alguém que o tire do chão e vire sua cabeça ao avesso. Uma droga viciante e proibida. Atenção e carinho tudo bem, mas estabilidade? É na instabilidade que residem as maiores paixões e as mais arrebatadoras pessoas. Elas arrebatam porque provocam dor e o ser-humano necessita de dor para viver.

É na dor que ele se sente mais vivo e, quando ela é muito forte, morto. Morrer aos pouquinhos ou mesmo rapidamente, é necessário para dar valor a vida e erguer-se de novo para estar mais forte na próxima queda. O homem precisa sentir-se miserável para dar valor ao que tem.

Drogas lícitas viciam, excitam, atraem, mas viram rotina. São passíveis de ser utilizadas em qualquer situação, em qualquer lugar. As ilícitas? Alucinam, lhe levam a outros mundos, lhe fazem refém, só que em superdose, destroem.

A paixão é uma dor que pulsa para lembrar que existe. Ela destrói o que você entende por realidade e lhe mata aos poucos. E como é bom morrer... Como se o inferno fosse o paraíso queimando em prazer, e uma vez feito o pacto com o demônio só há uma cláusula que pode destrui-lo.

O amor. Este é a soma de todas as drogas. É lícito pelo excesso de atenção, carinho, respeito mútuo, pela necessidade constante de proteger e ver o outro feliz. É também ilícito, pois vicia, lhe faz queimar e faz gritar de dor. Também mata. Mata o que há de pior em você e lhe torna melhor.

O amor é uma droga e nem todos são dignos dela. Embarcar em um barco furado e morrer sem nada, ou em um transatlântico e ancorar em um porto seguro? Melhor seria afundar e aprender a nadar juntos.


W.A.M.



quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Move on

Fortaleza, sexta-feira 13

Oi, tudo bem?

Nunca fui muito boa com as palavras, pelo menos não as que saem pela boca. Minha verborréia flui melhor com pena, tinteiro e uma folha de papel. Que antigo, né? Eu sei. Prometo que da próxima vez tento, ao menos, usar uma bic mordida, até porque é por isso que lhe escrevo.

Estou tentando mudar, jogar fora os velhos hábitos e tudo aquilo que me faz mal. É tempo de renovação. Bom, vou direto ao ponto. Você faz parte do meu antigo eu, de uma pessoa confusa e que sempre carregava uma cruz maior do que os seus pecados. Eu não quero mais isso pra mim.

Parece desonesto fazê-lo por carta, mas você mesmo nunca foi exemplo de honestidade. Chegava sorrateiro e atacava como um lobo, corroendo minhas entranhas e tirando o que há melhor em mim. CHEGA!

É tarde para olhar pra trás e não existe borracha que apague os erros passados. Com tanta tecnologia bem que poderia haver um programa que nem naquele filme lá do Jim Carrey e da garota de cabelo colorido, mas não se preocupe, também deixei de fantasiar com filmes. Pintar o cabelo de verde não ajudou, então melhor parar.

Aí eu imagino: de que adiantaria apagar o que passou? Quer dizer, seria justo apagar o que me faz tão mal se um dia me fez tão bem? O pior é que eu mesmo não sei quando começou a mudar. Ódio e amor são opostos e, exatamente por isso, completam-se. É como se não gostassem de olhar no espelho, pois quando olham vêem a parte de si que rejeitam. Só que nesse momento, eu tenho que arrancar essa outra parte de mim, mas sem esquecer você, pois é meu aprendizado e minha base para crescer.

Me diz uma coisa... Você me apagaria? Do que estou falando? Você já me apagou e me deixou cega a ponto de eu esquecer como se sorri. Não posso te apagar da memória, mas posso começar uma nova. Uma memória cheia de sorrisos, onde só permanece quem merece e essas pessoas eu sei pelo olhar, pelo riso compartilhado e pela falta do lembrar você.

É parte de mim, não posso mudar. Posso agora arquitetar uma melhor para ficar a sua frente e mostrá-la aos meus filhos.

Adeus, passado. Foi um prazer conhecê-lo e um desprazer vive-lo.

W.A.M.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pilotando meu próprio avião


Quem não tem desejos? Sonhos, vontades ou simplesmente caprichos são parte de qualquer ser-humano. Há aqueles que têm até lista, nem que seja mental, do que ainda pretendem fazer na vida. No meu caso, tenho até medo de dar uma olhada nela.

Não que eu me envergonhe das minhas ambições, mas é que elas são altas demais e ficar enumerando-as seria cair do cavalo se não as realizasse. Quer dizer, claro que penso em realizá-las, não me passa um minuto pela cabeça não conseguir, ou pelo menos não tentar. Não tentar seria suicídio mental, ou somente preguiça mesmo. Seria sonhar e ter preguiça de fazer.

Minhas ambições são em sua maioria profissionais. Nunca sonhei em casar. Que? Longe disso! Até namorar atrapalharia minha vida. Radical eu? Talvez um pouco. Ou que seja apenas força de vontade, meu coração pode esperar um pouco.

Há também aqueles que listam o que não fariam de forma alguma. Eu sinceramente, nunca pensei nisso com muito afinco. Já imaginou descobrir todos os seus medos e nem pensar em desafiá-los?

Bom, eu temo voar, mas já o fiz. Não pela altura, não, isso não. Pelo simples fato de eu não estar no controle de algo que não dá errado, mas se der, já era. É, esse calafrio com aviões , insisto nada tem com altura, mas retrata meus dois maiores medos: o de perder o controle da minha própria vida e o de morrer.

Ambos significariam morrer. Deixar sua vida a cabo de alguém - claro que aqui saio do âmbito da aviação e disperso um pouco mais - e perder o auto-controle ou a "auto-suficiência"... seria que nem ficar no escuro total. E disso eu também tenho medo.

Alguns temem altura, extraterrestres, ladrões, empobrecer... enquanto outros sonham em pular de bungee jump, ir à lua, servir à polícia ou simplesmente continuar vivendo.
Eu? Sonho em subir bem alto, mas morro de medo de cair das nuvens.


W.A.M.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Zero

Dos amores que vivi, de nenhum pude desfrutar. Foram se entranhando em mim e estranhando-se enfim.
Os corpos conversaram com o meu e resolveram ser somente amigos. Unidos pelo desejo dos corpos repelidos pelo grito do coração que não aprendeu. Repelindo o desejo e calando o coração até que este aprendesse outro verbo.
Amores que viram amigos ou que simplesmente nunca consideraram-se amores. Porque atraio amigos e afasto amores
Cercada de muitos e vazia de um

W.A.M.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Big Apple

Engrandecedor é sentir um amor maior que os erros, que os defeitos, mesmo que os seus princípios sejam outros. Porque amizade é o sentimento mais nobre que há.
Como uma árvore. Dá trabalho para plantar, mas é fácil colher os frutos.
Não deixe ninguém roubar sua maçã.

W.A.M.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mundo envenenado, tomei minha vacina

Quando os princípios perdem-se e o egoísmo toma conta, o que fazer?
Traição é suja, é desprezível. É trocar o amor que lhe fora doado por momentânea satisfação pessoal. Submeter alguém ao seu prazer vivendo com mentiras repetidas como verdades. Hitler fez isso com milhares.
Amigos e amores não são descartáveis ou utilizáveis da maneira que melhor lhe agradar. Devem ser vistos como ramificações do seu próprio ser. Você cuidaria bem do seu corpo e sentimentos, porque fazer o contrário com outrem?
"Não se deve fazer de amizade uma moeda de troca". Justo! Mas nenhuma relacionamento é unilateral, a não ser o narcisista e seu espelho e esse ainda ama o outro refletido e não a si.
Quando o espelho quebra você ainda pode ver os cacos pelo reflexo. Alguns se sentem bem em transformar o outro em caco, pois ainda assim podem se ver neles.
Tomei minha vacina contra pessoas e espelhos. Espero que funcione.

W.A.M.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Quelóide


Não é preciso ter vergonha de sentir, mesmo que tudo o que você sinta seja o medo. O puro medo de sentir. Mesmo que esse medo cause-lhe uma vergonha intensa.

O problema é quando se quer sentir medo. Sem ele feridas abririam, algumas reabririam, já que o alzheimer não afeta a alma.

Na verdade deve-se simplesmente sentir. Com a alma, com a cabeça, com o coração, com o corpo. Sentir intensamente o que a vida oferece e tantas vezes as ofertas são recusadas pelo medo. Mas o que seria do ser-humano sem o medo? Alguns só se reconhecem com ele.

Seria isso medo de fato ou apenas precaução? Seria isso ser covarde? Algumas perguntas parecem fáceis de responder quando a cicatriz não está na sua pele.

Quando se sente acuado, o verdadeiro medo a se ter é o de ser você mesmo. Ou deveria- se ter, na verdade, vergonha disso? Muito tarde para perguntas quando o mundo pressiona por respostas e você se vê cansado demais para responder.

A quelóide na alma deixa marcas maiores.


W.A.M.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A pior inimiga

Ela olhava pra outra garota com um asco nunca sentido antes. Conviver com ela causava-lhe enjôo, náuseas... A garota sugava cada pedaço do seu ser como se não a respeitasse, como se ela pudesse violar cada um ao seu redor.
O problema era esse. Aquela a quem olhava era só uma garota. Uma menina imatura e insegura em relação aos outros que se agarrara a ela com força demais. Com uma demência que atrofiava a frágil barreira entre ambas.
Não aguentava mais. Utilizou da violência para acabar com a menina a sua frente. Desabou quando viu os pedaços no chão e notou que a menina ainda estava ali. Refletida nos restos.

W.A.M.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Feliz dia do amigo!




Um amigo não ama pela metade. Amizade deve ser intensa, densa, encorpada, como se fosse o sentimento mais sublime do mundo.

Um amigo tem sempre dois lados: o belo e o feio. Não como amigo, mas como pessoa. Qualidades e defeitos convivem e tornam os seres ainda mais apaixonantes. Os defeitos podem levar um a pensar que o outro tem um lado feio. Mas se ele não errar como amigo, não for desleal, falso, aproveitador, os defeitos inerentes ao ser são relevados. Um amigo só é amigo quando conhece o defeito do outro e ainda assim gosta dele.

Amigos são a família que escolhemos. Quantas vezes já ouvi isso? Só concordo parcialmente. O que falar daqueles que não escolhemos? Amizade é um sentimento e não é possível mandar no coração. Se reconhece um amigo quando seu coração bate por ele sem que seja necessário uma ocasião especial ou "eu te amos" desmedidos. O coração sabe quem esta do seu lado antes que você racionalize isso.

É quando a amizade fala sozinha que vêm os momentos mais importantes de uma vida. O que dizer de um eu te amo dito do nada, sem motivo, sem necessidade? O que dizer quando os anos separam, mas o amor une?
Passamos a vida toda procurando o cara ou a garota que envelhecerá conosco, que estará perto quando precisarmos, mas esquecemos que quem estará sempre do nosso lado provavelmente já estava nas nossas vidas há muito tempo.

Paixões passam, amizades permanecem. Por que estar apaixonado por alguém é necessário, é uma doença que simplesmente ataca subitamente. Mas amor? Amar é pra poucos e pra aguentar um amigo rindo ou chorando, é preciso ser digno para amar e ser amado.

Obrigada a todos os meus amigos que confiam em mim, me amam e, principalmente, me aguentam. Não é fácil. Aguentam minhas bobagens, meus surtos, minhas frescuras, meus defeitos. Se você já aguentou isso e ainda assim está comigo, você com certeza é meu amigo.] e eu não tenho palavras pra agradecer e pra descrever a importência desse sentimento na minha vida.

Feliz dia do amigo aos meus e àqueles que entendem o valor de uma amziade!

W.A.M.

terça-feira, 29 de junho de 2010

A ponte de Londres está caindo ♪

Tinha um quê de não estar entendendo o que estava na ponta de seu nariz. Não conseguia desmitificar o que antes parecia um livro aberto. Sua lente era apenas para miopia, não para entrelinhas.

Foi um afastamento repentino. Uma distância continuamente aumentada por um não existir de palavras. Palavras não caminhavam mais entre elas. Até caminhavam, mas a ponte era mal feita, escorregadia, parecia feita em Londres.

Quando as palavras deixam de existir só o que vem à boca são restos numa ânsia de vômito incontrolável de regurgitar o que poderia continuar sendo se não parassem de ter sido.

Então pra que continuar se palavras eram seu chão e elas desapareceram bem debaixo de seus pés. Pra que continuar se as palavras estancaram. Como ir em frente?

Os substantivos apenas não lhe bastavam. Necessitava de verbos para poder adjetivar o que fora e pronominar quem havia sido.

Necessitava. Era esse o verbo.

W.A.M.

terça-feira, 25 de maio de 2010

A vida em um embrulho




Os médicos o haviam esquecido lá, mas ele era obediente, mesmo com a idade avançada tinha noção do perigo. Não levantou sequer por um minuto.

No colo uma trouxa de pano bem amarrada nas pontas. Chegara lá já fazia algum tempo, mas nunca deixava aquele embrulho sozinho. O segurava com os braços sôfregos para garantir que não caísse dos joelhos castigados.

No rosto uma expressão de conformação. Mas disso ele não sabia, nunca tivera espelhos em casa. Nos pés as sandálias de dedo feitas a mão quando ainda conseguia empunhar uma ferramenta. No pescoço, o catéter fazia questão de mostrar a todos os transeuntes que aquele homem sofria.

Do lado de fora das grades, a vida acontecia. Pessoas seguiam seu rumo onde só havia o relógio a frente. Ninguém notava o homem do lado de dentro da grade, sentado em um banco de praça. As costas reclamavam, mas ele aguentara coisas piores.

Em volta do pulso, o terço de contas azuis que costumava carregar no pescoço. Nos olhos uma paz angustiante de quem sabe que tem pouco tempo para viver o que havia deixado para fazer em muito mais tempo.

Ele continuava ali, sentado. A espera da próxima sessão de hemodiálise, ainda com os antebraços cheios de curativo da semana anterior. Ele não se importava.

A casa deixara para trás em busca de um vintém de esperança, tudo que havia de valor, levara na trouxa: Um cobertor, o chapéu de palha que fora de seu pai, as bolas de gude do filho enterrado, o camafeu da esposa assassinada e uma foto de família. O único lugar onde ainda deixava-se ver no espelho com a esperança de um dia conseguir voltar a sorrir como na imagem.

Atrás, a dedicatória: Ao meu querido esposo, para guardar na lembrança a família linda que somos e, se um dia não o formos mais, não deixar que os vermes da terra corroam sua carne antes do fim.

W.A.M.

Sou uma ladra



Sou Alice perdida no país das maravilhas, querendo encontrar um caminho para chegar onde desejo. Sou uma ninfa que corre em campo aberto colhendo sorrisos.

Sou um Herói que ainda não findou seus 12 trabalhos. Sou Peter Pan que não quer crescer e, mesmo assim, teima em procurar a sombra. Sou uma Górgona que transforma outrem em pedra com simples um olhar.

Forrest Gump aprendeu a contar histórias comigo, sua Sherazade. Não sou de lataria como Bumbblebee, mas posso me transformar em pouco tempo.

Sou uma poesia de Vinícius de Moraes. Estou nas palavras de Clarice Lispector.

Derrotei Minotauros, mas ainda não consegui desvendar o enigma da esfinge. Sou um centauro sagitariano: metade mulher armada, metade um cavalo selvagem.

Como sereia, atraí marinheiros e fui atraída por eles. Se ofendida, sou capaz de matar o cão de três cabeças no portão de Hades.

Sou um Alexandre com mania de grandeza, sou uma Afrodite em busca de Apolo. Sou uma fã de Beatles em tempos de NX Zero.

Sou uma atriz de teatro sem as luzes da ribalta. Sou uma Rock Star em busca da batida perfeita.Dionísio me levou à perdição.

Sou Dante Alighieri tentando reinventar uma língua. Sou um Machado de Assis que não deseja dedicar suas memórias aos vermes que corroerão sua carne.

Sou Capitú e posso te afogar na ressaca dos meus olhos. Sou Wolverine, meu poder de regeneração nunca falha.

Sou alguém que não sabe quem é e tem que apropiar-se de personagens para entender o próprio reflexo no espelho.

W.A.M.

sábado, 22 de maio de 2010

Who?

Mentir para aproximar-se de alguém é como um velho Del Rey. Pega se empurrado, mas morre na primeira esquina.
Ele é rei. Quem é você?

W.A.M.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Memórias de um cético sentimental





Desacreditei do tempo. Ele voa demais para que alguém possa senti-lo, saborea-lo, deliciar-se. Ele voa e leva o sorriso daquela amiga, o olhar de quem se gosta, o perfume que marcou. Mas ele também pára. Pára na aula chata, no trânsito... Pára na dor, no pranto. O tempo é uma agulha que vai desenhando uma história na
pele e de repente estanca. Sangra. E dói. Só ele apaga es
sa dor.

Desacreditei do espaço. Hoje pertenço a este lugar, amanhã a outro. Hoje me sinto em casa, ontem não era bem assim. Alguns têm espaço suficiente para construir uma vida, cimentar cada tijolo e uni-los. Outros levam a vida escolhendo a argamassa. Se a casa é onde mora o coração, é uma pena que os corações não batam na mesma sintonia.

Desacreditei do amor. Ele ludibria, trapaceia
, mente, mata. Ele te deixa em um êxtase quase narcótico. El
e te droga. Faz ver o ser amado em tudo, te leva à alegria excessiva. Mas você descobre que não ama o ser e sim o ideal. O ideal de alguém que se forma na mente, mas aí o príncipe não usa a cela correta e cai do cavalo, com ele o brasão da realeza se quebra e no fim você acaba descobrindo que o título era fajuto.


Desacreditei das pessoas. Elas são capazes de tudo para derrubar uns aos outros. Elas brigam, matam, roubam, vivem. Elas sentem ciúme e estragam amizades. Elas pensam possuir umas as outras quando, no fim, não possuem o próprio coração que acabará entre as minhocas da terra. Elas enganam e manipulam. E o pior! Elas crêem
no tempo, procuram seu espaço e distribuem declarações de amor antes mesmo de ter certeza do ritmo no qual bate o coração.

Desacreditei do próprio coração. Este é vítima frequente da inveja, ciúme, prepotência dos outros. E, principalmente, ele não sabe amar. É irracional.

Desacreditei do cérebro. É racional demais. Formula hipóteses e procura consequências. Tenta prevenir dos males vindouros. Ou simplesmente maquina sem parar atrás de uma forma de fazer mal a alguém.



Acreditei no tempo. Apesar de não apagar as cicatrizes, apaga a dor.
Acreditei no espaço. Um dia se acha o lugar onde se pertence.
Acreditei no amor. Há várias formas de amar. O carnal pode ser efêmero, mas é intenso.
Acreditei no coração. Não é pecado amar. Pecado é ter medo de ser amado.
Acreditei no cérebro. Evita dores e articula a vida.

Não me peça pra acreditar nas pessoas.

W.A.M.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Sad tree friends





É fácil podar uma árvore. Não custa nada elevar a tesoura e cortar fora seus galhos cultivados por uma vida inteira. Só que quando eles se vão, vão embora também sua história, seu passado, seus traços mais marcantes.

Esses são sua vida expressada em lascas tiradas, em corações desenhados, em migalhas de piquenique deixadas, em restos de ninhos construídos por seus mais fiéis companheiros. Os galhos falam.

É fácil fazer uma árvore perder seu formato. Mais fácil ainda é fazer isso sem perguntar se ela quer sair de si.

Só que a essência fica. Uma mangueira continuará produzindo manga, afinal os galhos crescerão e novas histórias desenhar-se-ão. É um cicl
o interminável.

É fácil podar uma árvore. O difícil é conviver com as folhas secas que caem dela no outono.




W.A.M.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Nela

Ele não conseguia abrir seu coração pra ela. Sem mais explicações, fechou os olhos para a verdade.
Os olhos ficam na cabeça e esta não se dava bem com o coração.
O sentimento doía, mas doía na terceira pessoa.

W.A.M.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Andava tão a flor da pele...

A relva estava mais verde naquela manhã ensolarada. Parecia um presente da primavera que mal chegava. O prisma pendurado na janela a acordou reluzindo todas as cores de mais um dia no pequeno vilarejo.
A menina correu pelo campo até as derradeiras árvores. Sentia a necessidade de aspirar cada segundo daquele ar que de tão puro, revigorava. O vestido florido balançava ao sabor do vento que tornava-se mais forte a medida que ela corria.
De repente, parou. Freou bruscamente e ali, frígida, entendeu o motivo do sobressalto impulsivo. Havia mais para além do campo do que aqueles pomares com suculentos frutos. Havia o roseiral. E bem no centro, uma rara rosa destoava das outras pálidas e rubras. Não era escarlate, mas também nem de longe parecia branca. Era cor-de-rosa. Como em uma mistura das rosas majoritárias, aquela era a personificação do amor.
Apressou-se para tocá-la. Bonita, mas não era macia e sim áspera, porém essa aspereza não incomodava. Ela emanava uma sensação inigualável de carinho. Como poderia uma pequena flor passar um sentimento tão bom para aquela menina tão pequena?
Não hesitou! Arrancou a celebérrima do meio das outras com as pontas dos dedos. Mas não se sentiu melhor e notou que aquilo não lhe pertencia. Constatou que aquele seria um magnífico presente para pessoas especiais. Mas como dá-la a todos que amava se só havia uma?
Não importava. Carregando a flor, saiu esvoaçando o vestido pela relva. Tropeçou algumas vezes, mas continuou a correr. Encontrou então o que queria, aquilo pelo que mais prezava: seu amigos. Sem titubear, a garotinha foi arrancando da raridade que tinha em mãos pétala por pétala e entregando cada uma a um amigo diferente. Assim foi até a última. Restou-lhe o cabo.
As outras crianças pareciam felizes com suas amostras de afeto sincero. Deliciavam-se com a força emanada pelas pétalas cor-de-rosa, mas algo chamou-lhes atenção. A relva ficara vermelha, assim como a menina. A menina da rosa sangrava. Dara todo o afeto existente na flor e não notou que havia espinhos.
O vestido florido ficou escarlate. A pele alva, rubra. Os olhos sadios, pálidos. Ela conseguiria conviver com a dor daqueles espinhos em suas pequenas mãos, mas as pétalas nunca voltariam a se unir.

W.A.M.