segunda-feira, 3 de maio de 2010

Andava tão a flor da pele...

A relva estava mais verde naquela manhã ensolarada. Parecia um presente da primavera que mal chegava. O prisma pendurado na janela a acordou reluzindo todas as cores de mais um dia no pequeno vilarejo.
A menina correu pelo campo até as derradeiras árvores. Sentia a necessidade de aspirar cada segundo daquele ar que de tão puro, revigorava. O vestido florido balançava ao sabor do vento que tornava-se mais forte a medida que ela corria.
De repente, parou. Freou bruscamente e ali, frígida, entendeu o motivo do sobressalto impulsivo. Havia mais para além do campo do que aqueles pomares com suculentos frutos. Havia o roseiral. E bem no centro, uma rara rosa destoava das outras pálidas e rubras. Não era escarlate, mas também nem de longe parecia branca. Era cor-de-rosa. Como em uma mistura das rosas majoritárias, aquela era a personificação do amor.
Apressou-se para tocá-la. Bonita, mas não era macia e sim áspera, porém essa aspereza não incomodava. Ela emanava uma sensação inigualável de carinho. Como poderia uma pequena flor passar um sentimento tão bom para aquela menina tão pequena?
Não hesitou! Arrancou a celebérrima do meio das outras com as pontas dos dedos. Mas não se sentiu melhor e notou que aquilo não lhe pertencia. Constatou que aquele seria um magnífico presente para pessoas especiais. Mas como dá-la a todos que amava se só havia uma?
Não importava. Carregando a flor, saiu esvoaçando o vestido pela relva. Tropeçou algumas vezes, mas continuou a correr. Encontrou então o que queria, aquilo pelo que mais prezava: seu amigos. Sem titubear, a garotinha foi arrancando da raridade que tinha em mãos pétala por pétala e entregando cada uma a um amigo diferente. Assim foi até a última. Restou-lhe o cabo.
As outras crianças pareciam felizes com suas amostras de afeto sincero. Deliciavam-se com a força emanada pelas pétalas cor-de-rosa, mas algo chamou-lhes atenção. A relva ficara vermelha, assim como a menina. A menina da rosa sangrava. Dara todo o afeto existente na flor e não notou que havia espinhos.
O vestido florido ficou escarlate. A pele alva, rubra. Os olhos sadios, pálidos. Ela conseguiria conviver com a dor daqueles espinhos em suas pequenas mãos, mas as pétalas nunca voltariam a se unir.

W.A.M.

Nenhum comentário: