terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Tchau, 2013

2013 vai acabando e é inevitável fazer um balanço de tudo que foi vivido. No meu caso, aquele velho balanço insone, aqui, jogada nessa madrugada desse quarto escuro, na esperança que o sono chegue em algum momento.
Foi um ano de crescimento profissional onde pude aprender muito mais e me moldar a cada erro. Aprendi também com as experiências pessoais. Fiz amigos, amei os velhos e bons, lembrei aos eternos quem são...
Mas 2013 também foi um ano de medo.
Quando olho pra trás não há um acontecimento que tenha me dado tanto medo e tanta alegria quanto a morte e a ressurreição de um amigo.
Não. Não cito aqui Jesus e seus grandes feitos, mas meu amigo, meu irmão, nosso Bernardo.
Ainda nem consigo descrever as emoçōes e sensações ao saber que ele esteve morto por tantos minutos e voltou à vida graças à competência de médicos. Um buraco se abriu à minha frente... E os dias que se passaram foram de vigília, noites em claro e apreensão e, claro, de uma esperança infinita que moveu a mim e às dezenas de pessoas que amam esse cara apaixonante.
Hoje você tá aqui. Nada de coma, nem de medo, só o velho e amado Badim. Quando olho 2013 só penso no quanto isso fez com que esse ano se tornasse um dos melhores da minha vida pelo simples fato de saber que você vai continuar nela. Que eu ainda vou ouvir muitas histórias de faculdades, festas, da Cecilia e, o que mais amo, seus planos pro futuro. Sim! Porque há um lindo futuro sorrindo e chamando quem, como vc, tão jovem, enfrentou tudo com uma força que teimo em dizer não ser desse mundo.
Agora que venham os velhos clichês de final de ano: você só sabe o valor que alguém tem quando o perde. E quem disse que clichês não são reais?
Estar perto de perder um amigo é uma sensação terrível que nem se eu pedir ajuda de Aurélio e Pasquale conseguiria descrevê-la.
Eu não te perdi, meu irmão albino, e hoje valorizo ainda mais você e os outros. 

A vida é algo tão simples pra ser complicada e nós tão frágeis para perdê-la com brigas. Não levamos nada material dela, mas até a morte vamos ter sempre os amores, amigos e laços que construímos. No fim, nada mais importa.
2013 foi um ano de ressurreição, então que venha 2014 e seu exército de moinhos.

W.A.M.

sábado, 16 de novembro de 2013

Uma loira gelada, por favor


Sentado em frente ao balcão ele levanta mais um copo. A cerveja desce gelada dando alguns breves momentos de alegria. É preciso de mais.
Em um ponto da festa, a alguns metros, uma moça bebe a mesma cerveja. Os cabelos dourados brilham encantadoramente sob as luzes e o sorriso se abre quando os olhos se encontram. Ela toma coragem e pisca. Ele se vira.
Há meses levantaria para perguntar o nome dela e o esqueceria horas depois de uma noite juntos. Agora não. Do nada começou a sentir algo que nunca o havia acometido. Um vazio profundo. Um buraco se abriu em sua alma e o coração dói a cada dia. E antes nem achava ter coração. 
Cansou de buscar, "se divertir com as erradas enquanto não chega a certa", como sempre diz. Mas como saber se a certa já não chegou e ele a deixou passar em meio a incontáveis mulheres. Vazias, fúteis, desnecessárias. Mulheres que nem mesmo lembra os nomes.
Em anos conseguiu sexo fácil, beijos selvagens, mensagens quentes, mas anseia por dar um beijo apaixonado, fazer amor, falar com os olhos e testar a cumplicidade e parceria de uma vida a dois. Será a idade chegando? Como saber...
A moça de cabelos dourados continua a flertar sem êxito. Sem explicação ele lembra de outra bem diferente. Cabelos negros e longos, olhos escuros e grandes, e um sorriso... um sorriso que nunca soube aproveitar de fato entre uma balada e outra. Seria ela a mulher da vida que deixara passar ou ainda estará por vir? 
Pede a saideira, toma como se fosse a melhor de toda sua vida e vai até a moça de cabelos dourados. Acovardado, pergunta o nome dela... aria... adri... alguma coisa. Não vai fazer diferença mesmo. Não enquanto o medo o impedir de ser realmente feliz.

W.A.M.

Contadores de histórias


Na rua, entre uma entrevista e outra, uma senhora me pára. Ela tem os cabelos presos despretensiosamente e rosto de maternal. Carrega consigo uma chinela de borracha, uma foto de uma moça e o peso do mundo. Com olhos marejados e voz chorosa ela faz um apelo:
_ Minha filha sumiu e eu estou desesperada! Por favor, me dá um espaço para tentar encontrá-la!
Pausa. Olho para a foto de uma moça feliz com uma criança no colo e um rapaz notavelmente apaixonado ao lado. Engulo em seco enquanto minha garganta dá um nó. Como explicar que na correria entre uma pauta e outra não posso parar por 2 minutos para ouvir o apelo de uma mãe sofrida, desgraçada pela dor e angustia de não saber onde está a filha? Explico. Dou as costas e então me curvo, como se o peso do mundo recaísse agora sobre mim.
No carro, em direção à próxima pauta, minha mente não para de martelar. O que é um repórter a não ser um contador de histórias? Uma pessoa comum com o dever de falar sobre outras. Somos escritores do cotidiano. Se os buracos na rua incomodam a comunidade, vamos ouvi-la e dar uma resposta. Se seu Francisco vê seu gado morrer por falta de água, cabe a nós ouvir seu desabafo. Se a dona Maria está desesperada em busca da filha perdida, porque não ouvir sua dor, seu lamento, sua história.
O sofrimento, a alegria, as mãos rachadas, os olhos marejados, o banco da praça... detalhes para uma história que só vive através de um personagem.
Eu, como protagonista da minha, me sinto orgulhosa por poder contar histórias, por ter a oportunidade de conhecer Franciscos, ,Marias, Joões e Josés.
Quando uma história não pode ser contada bate a dor, como uma orfã de um livro recém-lido que só se recupera após o próximo.

W.A.M.

domingo, 26 de maio de 2013

Você não

O telefone toca, eu sei que é você. Não há como negar. É um sentimento entorpecente, uma sensação de bem-querer em uma simples saudação.
Alô?
É você sim!
Me conta da vida como se em um dia o mundo se transformasse. A sua voz é poesia musicada que me dá vontade de seguir, que acalenta minha insônia agoniante.
Mas o vento é forte, a tempestade segue, você fica. O mundo, afinal, transforma-se em um dia. Ele gira.Você que me segurava, me amava, me cuidava, se foi sem nada dizer.
A dor ficou. A dor de não ter com quem contar e nem mesmo uma explicação na qual segurar. Ela ficou. Você não.
Dor companheira, amiga, fiel. Ela me acompanha. 
Você não.
Ficou pelo meio do caminho com essa camaleônica capacidade de mudar de ares, de amigos, de sentimentos.
Pelo menos até a próxima silenciosa tempestade. Até o mundo girar e voltar ao mesmo lugar.

W.A.M.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Filosofia de bar


Me fala de amargura. Diz que ela é minha melhor amiga, companheira, fiel e única parceira para uma vida. Me diz que não sei discordar, que devo aprender a brigar. Escuto calada, sem palpitar ou defender-me. Só um tolo tenta convencer outro que a opinião dele está errada se não pode ter certeza nem de sua própria versão. Mesmo que o juízo feito fosse sobre mim, sobre minha vida, sobre as impressões que passo, calei-me.
Agora, sentada nessa mesa em companhia da fria loira à minha frente, mastigo a informação. Ruminante como um bovino, não consigo digeri-la. Diz que não tenho coração. Para quê tê-lo se a principal função que a maioria das pessoas dá a ele é a de guardar. Não amores, lembranças, sorrisos ou o gosto do bolo da vovó. Mas rancor. Esse "sentimento" fétido que não valeria sentar ao meu lado para dividir o colarinho da minha loira neste momento. Diz que sou amargurada porque não me julgo capaz de fazer alguém feliz, mas guarda palavras ruins como se guarda um filho.
Não contente, diz ainda que deveria guardar rancor e despejá-lo em fúria sobre o próximo. Pergunto-lhe: a troco de que? De que valem as palavras hostis, as brigas, as discussões aleatórias se fazem apenas mal. Prefiro esquecer. Mesmo que o pé recue sempre mais a cada problema, esquecer é o meu caminho.
Se acha que não tenho coração, o que encheria eu de rancor? O fígado? Este já está muito ocupado metabolizando minhas noites de filosofia solitária.
Sou do contra até que provem o contrário. Se não se esforçarem em provar, permanecerei quieta, aqui nesta mesa com minha garrafa suada.
Prefiro viver sem coração a ter um onde habite apenas raiva. Raiva de palavras proferidas sem a intenção de machucar. Raiva de alguém não pensar como eu. Raiva de quem não consegue ter raiva. Sim, isso mesmo, pode ter raiva de mim.
Guardo meus ferimentos enterrados embaixo das cicatrizes. Estão lá para que lembre deles, mas nunca voltam a doer. Aprendo, não remôo. Os despejo no máximo em folhas de papel.
Calma, não precisa se alterar! Guarde isso no seu tão grande coração, prefiro cultivar meu fígado.
Se bem que... com tanto ódio guardado... quem mesmo não tem coração aqui? É... Talvez a loira gelada. Apenas talvez.

W.A.M.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Me ensine a voar

A página em branco me irrita. Como se me olhasse com repugnância. Me julgando por não ter a capacidade de preencher o vácuo. Não escrevo por fazê-lo. Cada palavra jogada, cada frase formada são restos do meu corpo. Necessito preencher o espaço para suprir meu vazio.
As ideias saem conflitantes. Brigam entre si acusando a outra se ser a pior, a menos digna de ser desenhada no lívido espaço à minha frente. Enquanto brigam me encontro no meio, perdida na vontade de expressar algo. Um suspiro que seja. 
Há algo em mim que deseja ser livre. Voar em direção à folha para acalentá-la nessa fria solidão.
Nada sai. Jogo a caneta, me levanto, tomo em mãos um livro como se fosse um recém-nascido.
Ensine-me. Liberte-me. Preencha de palavras o vazio que há em mim.

W.A.M.

Mais do mesmo

Odeio rotina. Chegar em casa é como morrer mais um pouco. 
Cada movimento feito igual, cada semelhança mata aos pouquinhos. E que há para se fazer em casa a não ser pensar nisso. Nela. Quando virá me tirar desse cotidiano? Amanhã ou enquanto durmo? Que seja logo. Ou não. Melhor nem dormir para não arriscar. Quando?
Pensar nela me tira o sono. Ele bate à porta, mas não entra ao perceber que amanhã farei o mesmo do mesmo. Morrerei mais uma vez da vez forma. Para que temer a definitiva se a torturadora me persegue dia após dia?
Mas quando? Uma cerveja já não me basta. São necessárias várias. A embriaguez que me faz adormecer também me acalenta, faz sentir vivo. Melhor viver a morrer sendo mais um ébrio covarde.
Ser solitário no inferno a ser mais um no céu.

W.A.M.