sábado, 16 de novembro de 2013

Contadores de histórias


Na rua, entre uma entrevista e outra, uma senhora me pára. Ela tem os cabelos presos despretensiosamente e rosto de maternal. Carrega consigo uma chinela de borracha, uma foto de uma moça e o peso do mundo. Com olhos marejados e voz chorosa ela faz um apelo:
_ Minha filha sumiu e eu estou desesperada! Por favor, me dá um espaço para tentar encontrá-la!
Pausa. Olho para a foto de uma moça feliz com uma criança no colo e um rapaz notavelmente apaixonado ao lado. Engulo em seco enquanto minha garganta dá um nó. Como explicar que na correria entre uma pauta e outra não posso parar por 2 minutos para ouvir o apelo de uma mãe sofrida, desgraçada pela dor e angustia de não saber onde está a filha? Explico. Dou as costas e então me curvo, como se o peso do mundo recaísse agora sobre mim.
No carro, em direção à próxima pauta, minha mente não para de martelar. O que é um repórter a não ser um contador de histórias? Uma pessoa comum com o dever de falar sobre outras. Somos escritores do cotidiano. Se os buracos na rua incomodam a comunidade, vamos ouvi-la e dar uma resposta. Se seu Francisco vê seu gado morrer por falta de água, cabe a nós ouvir seu desabafo. Se a dona Maria está desesperada em busca da filha perdida, porque não ouvir sua dor, seu lamento, sua história.
O sofrimento, a alegria, as mãos rachadas, os olhos marejados, o banco da praça... detalhes para uma história que só vive através de um personagem.
Eu, como protagonista da minha, me sinto orgulhosa por poder contar histórias, por ter a oportunidade de conhecer Franciscos, ,Marias, Joões e Josés.
Quando uma história não pode ser contada bate a dor, como uma orfã de um livro recém-lido que só se recupera após o próximo.

W.A.M.

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