As lágrimas desenhavam o rosto da garotinha. Formavam figuras quase invisíveis na face pálida. Sentia-se só em meio a tantos olhos fixos. Olhos que a amedrontavam. Grandes e mortos naquelas pequenas criaturinhas com as quais insistiam em presenteá-la. Com o gosto do sal, adormeceu.
O nariz foi o primeiro a acordar. Detectou algo familiar que caminhava à sua frente como papai noel entregando um presente de natal. Era o cheiro do cuzcuz da vovó.
A tristeza ficou para trás durante a corrida até a cozinha. Foram alguns segundos que pareceram uma eternidade. Apostou corrida com o tempo e com a infância... pela primeira vez perdeu.
No fogão apenas a panela vazia. Na porta uma jovem senhora. Curvada, com olhos tristes e um sorriso no rosto. Tentou balbuciar algo, mas a voz trancava-lhe a garganta. Apenas sorriu, se virou e deixou o lugar sem olhar para trás.
Deixou a mesa pronta com uma última refeição, a cadeira de rodas abandonada no canto da sala e no meio de tudo uma mulher que um dia fôra uma criança amedrontada pelas bonecas. Deixou a filha que não saiu de seu ventre tomada pelo maior medo. Ver o coração saindo pela porta sem dizer adeus.
W.A.M.
Um comentário:
Sensação de despedida, de abandono e vida tão pouco vivida.
Mas lindo o texto, uma das coisas mais consistentes que li até agora.
Estava com saudades daqui!
Abração
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