2012. Um homem visita a antiga casa, hoje entre tantos outros galpões em um enorme campo verdejante. Os olhos cansados mal acreditavam na beleza daquele lugar em um pedacinho da Alemanha. Nem o verde, nem as flores, nem o dia ensolarado o distraíam do odor que vinha com as lembranças. Era um cheiro familiar... de amigos. Queimados. Mortos. Por seres que se auto-intitulavam humanos.
Difícil enxergar a beleza ao sentir o que caía em sua pele. Poeira trazida pelo vento. Como as cinzas em outro dia de sol que ficara no passado. Naquele dia no qual vira sua mãe pela última vez. "Amor, vou com sua irmã, volte para lá! Nos veremos mais tarde!", dissera ela entre os gritos dos soldados. O 'tarde' nunca chegou...
Não lembrava de ter dito adeus, apenas uma voz de um homem sem rosto ecoando em sua mente. "Está vendo aquilo? - apontou para uma enorme chaminé - É a sua família virando fumaça".
Como podia sentir a brisa como o outros? Apenas ouvia a marcha de homens, mulheres e crianças esquálidos e silenciosos em seus pijamas brancos e azuis.
Não lembra bem como escapara. Só de ouvir o fogo dos fuzis alemães enquanto correra com toda força que sua magreza permitira. Mais tarde vira pilhas de homens e sangue. Amigos. Parentes. Mas não ele.
Apagou e acordou dentro de um tanque de guerra. Acordou vivo e livre. Não mais tivera de comer os próprios piolhos para sobreviver. Queria apenas ovos mexidos e uma vida normal.
Os tem agora e dá ainda mais valor às rugas com as quais o tempo livre o presenteou. Rugas que muitos homens que dormiram ali, ao lado dele, naquele galpão, não tiveram oportunidade de ter. Homens humildes, honestos... amigos.
O velho vira tudo calado e assim permanecera como se fosse o primeiro dia do resto de sua vida. Mas não restava muito. Acendeu o charuto e esperou queimar. Tinha certeza que em algum lugar entre a câmara de gás e a eternidade, ela a esperava sorridente para dizer: "Eu disse que nos veríamos mais tarde".
W.A.M.
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