segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sopa de legumes



A fumaça invadiu a casa. Era mamãe cozinhando o jantar no velho fogão a lenha. O cheiro não era assim tão apetitoso. Mias uma vez sopa de legumes, os mesmos que papai trazia do campo dia após dia. Os mesmos que repetiríamos no almoço.
De certa forma, eram apetitosos. Não pelo gosto em si, mas eram sempre servidos com um largo sorriso e eram seguidos de cafunés para o sono chegar mais rápido...

Essa era a única lembrança nítida que tinha da infância no interior. Depois todas as memórias estavam esfaceladas.
A morte dos pais. A busca por trabalho na capital. Casamento. Filhos. Surras inexplicáveis. Separação. Velhice. Azilo.
Isso não dava para esquecer. Os filhos a abandonaram naquele lugar quente e ao mesmo tempo tão... frio. Bom, era melhor que a sarjeta. Não tinha amigos. Passava os dias a tricotar. Atividade que teve que aprender para não enlouquecer.
Não tinha mais espelhos desde que se olhara e não reconhecera a própria face. Tantas rugas quantas não sabia que pudessem existir. Orelhas e narizes crescidos e uns olhos.... Um dia houvera vida neles. Não sabia quando tinha ficado assim. Provavelmente durante os três anos que ficara naquele lugar.
A sorte mudaria. Aquele dia seria diferente. Recebera a notícia que os filhos iriam jantar com ela pela primeira vez em tanto tempo... Pôs o melhor vestido e esperou. Apenas esperou... O relógio parecia mais lento e, de repente, parou.
Quando chegaram viram a mãe sem vida em cima da mesa de madeira corroída. Ao lado do corpo, três pratos preparados.
Três sopas de legumes. Dessa vez, sem cafunés.

W.A.M.

Um comentário:

ascka disse...

Se tivesse um tanto mais de detalhes e descrições, uma atmosfera criada completamente, eu acho que teria ficado ótimo. :)