Aquela garota detestava o mês de dezembro e aquilo estava escrito no rosto dela, nas atitudes dela, principalmente nos olhos. Não que não gostasse de ter nascido naquele mês, na verdade não teria escolhido outro, mas não lhe trazia boas lembranças.
Como se não bastasse as más lembranças dos aniversários, das pessoas trancadas em um quarto da casa para não ter que encará-la quando completava suas primaveras, foi também em dezembro que sua vida faleceu. A vida que cuidou dela quando era um bebê e que há muito era cuidada por ela, tomava banho pelas mãos dela, e também há muito nem sabia que ela era sua neta. Foi em dezembro que a sua vida se foi sem nem lembrar quem ela era. Só lembrava que não era feliz quando voltava à lucidez em momentos raros nos quais se desprendia da época longínqua na qual a doença lhe prendeu. Sua vida era fraca, não se segurava nas próprias pernas, mas com certeza não havia perdido a sinceridade do olhar. Era de família falar com os olhos. E ela se foi uma semana depois do nascimento da menina e uma semana antes do natal.
E o natal... não costumava ser tão ruim, mas lá estava ela. Entre uma família que se odiava e pessoas que amava. Olhou para a cadeira ao lado e ela estava vazia. Ela olhava e via os fantasmas dos natais passados, a cadeira vazia involuntariamente há 4 anos e a cadeira recém vazia, porque não cabia mais ali.
O calor daquele mês a sufocava, mas ele tinha sua mágica. Ele a aproximava daquela outra mulher que ela nem mesmo sabia como ainda se aguentava nas pernas, mas sabia que tinha um coração como nenhum outro já feito por Deus. Um coração tocado por Midas e intocado pela maldade humana. E ela sonhava um dia poder ser que nem aquela mulher, ou como aquela outra que falecera há quatro anos... e via que o aquele mês não era tão ruim, pois foi nele que ela dera o maior presente que sua mãe já houvera ganho na vida: a sua própria vida. E, somente por isso, ela fazia questão de viver muitos dezembros mais.
Sua vida não havia ido embora em dezembro, ela havia chegado e dado força para superar os outros onze meses do ano.
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