terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vivendo pleonasticamente

E se pudesse descrever, a palavra seria tortura. Não uma tortura qualquer, mas aquela que envolve em algemas e chicotes de couro, te aprisionando entre a dor e o prazer.

Esse torpor é a maior ambiguidade pela qual pode-se passar. O ápice do equilibrista que vai até o fim da corda bamba. O sofrimento da bailarina que contunde o joelho e torna-se fadada ao esquecimento.
Nada dói mais que ser deixado de lado quando anseia-se por um olhar num banco frio de praça.

A dor carnal é suportável, ela passa e não deixa vestígios, no máximo cicatrizes. A outra dor, dói! E doendo persegue, maltrata, corrói...

Que doce o pleonasmo de viver. É a dor maior, que mais enche de vida e ensina a amadurecer.

W.A.M.

Um comentário:

Danilo Castro disse...

Wan, n sei se vc já leu esse meu escrito, mas de maneira sadomasoquita eu vejo um lado bom na dor. Frida também pensava assim.

Estou precisando injetar Clarice em minhas veias novamente. Há uma boa temporada saí do meu coma alcoólico e não mais voltei à Neverland. Há em mim uma coisa que grita porque há tempos nada me dói, e quando nada me dói, nada escrevo, entro em crise. Viro pedra polida, inquebrável, impenetrável, seco. Donde estão as lágrimas que tanto amo? Preciso encharcar-me delas como ontem, soluçar sem fim, remoer-me em dor. A Felicidade é minha maior inimiga. Sim. A Felicidade usurpa de mim o direito que sempre tive de cuspir minha arte amadora e desconexa. Minha perversidade clama. Preciso o quanto antes achar motivos para torturar a vítima indócil que sou. É fome de criação. Sou amador. Amo a dor.

Danilo Castro


Ah, pra terminar, mando uma frase de Gabriel Garcia Marques em "Memórias de minhas putas tristes"

"... a fama é uma senhora muito gorda que não dorme com a gente, mas quando a gente desperta ela está sempre olhando para nós aos pés da cama."


É duro não ser um ponto iluminado, é como se buscássemos um reconhecimento para nos autoafirmarmos diante do mundo. É mesquinho pensar assim, mas isso faz parte de mim, que posso eu fazer?

Um grande abraço!