sábado, 5 de setembro de 2009

A fase escarlate de Picasso

Uma sem nome nas esquinas da vida. Uma pedinte de bares mesquinhos buscando uma alcova para o corpo, um Sinatra para o coração e algum Nietzsche para a mente.

Provocando em cada local o estranhamento como se não soubesse o que provocava um olhar faceiro de menina moleca tentando ser mulher.

Um vinho pra esquentar o coração e o pedaço de papel na mesa fétida. No papel, escrito em rubro batom, uma lembrança do imemorável prazer de um dia ter sido. Nas outras mesas, gargalhadas de entranhamento e um estranhamento qualquer.

Sarjeta mais uma vez, com as faces rubras de desejo e vergonha de não ser o vermelho e sim o azul. O azul de um mar perdido na fase mais sombria de Picasso. Talvez por isso não lembrasse onde estaríam seus olhos.

Ela via com a boca e beijava com o olhar. Mas ninguém a olhava nos olhos.

Enlouqueceu.

Na demência que entorpecia o corpo, se fez mulher. Buscou a felicidade em outros olhos, outras bocas, outros corpos, em outros... Gritou, chorou, amou, riu. Simplesmente riu.

Enfim tornou-se vermelha. Vermelha como uma simples letra escarlate.

Então, ela queimou.

W.A.M.

6 comentários:

Wânyffer Monteiro disse...

Não ter um assunto pré-definido pra começar a escrever, realmente faz fluir as coisas mais loucas. *_*

Ana Luisa disse...

eu gostei.

Danilo Castro disse...

FÂnYffer,

Primeiro vou te passar um "carão" por demorar tanto pra passar por aqui e deixar registrado o que você pensa...

Em segundo lugar, lendo esse seu pequeno texto, lembrei dos textos de uma amiga baiana. Na verdade não a conheço pessoalmente, só a conheço pelos seus textos... Mas acredita que agora somos carene e unha? rsrsrsrs

Bem, é um especime de escito que leva a gnte a contruir dois tipos de interpretações ao mesmo tempo, a interpretação do texto como literatura e a interpretaão das imagens que o texto propõe.

É como se tudo fosse se concretizando na minha frente, é um texto que fala mais que as palavras, é um texto que fala com cores, com textura.

Não, isso não é um texto, é um pintura viva, algo do tipo.

Ah, já viu o Traller de "Alice no país das maravilhas" de Tim Burton?


Beijo!
=]

Cristiano Contreiras disse...

interessante o contexto literário-cotidiano e crônicas breves por aqui. abraço

Anônimo disse...

ela queimou.... nun gostei do final..... até o final tava massa mas como assim ela queimou... ela morreu ?

Anônimo disse...

depois de uma explicação histórica favorável, agora eu entendo...