Um site { http://www.avesso.net/suicid6.htm } publicou alguns bilhetes suicidas e dentre todos, um chamou-me atenção. Não pelo pesar das palavras, mas pela veracidade incrustada nelas e, principalmente, porque pensei que poderia ser esse o meu bilhete suicida:
Sexo, Idade : F, 27
Cor : (descendente de orientais)
Meio : projétil de arma de fogo
Forma de mensagem : carta manuscrita a tinta azul
"A quem possa interessar:
Grande parte do que possuía foi vendida ou doada. O que resta, é minha vontade que seja entregue ao meu amigo João; o qual poderá dar a meus pertences o destino que lhe aprouver.
Nada deverá ser entregue a qualquer parente meu.
Quanto aos meus restos mortais, suplico encarecidamente; não o torturem com choros, rezas ou velas. É apenas a minha matéria e imploro que a deixem degradando-se em paz. A putrefação não é degradante. Se a humanidade permitisse que a natureza tomasse o seu curso, seria o renascimento da matéria.
Eu renasceria no vento que passa a murmurar, nas folhas que farfalham, no solo que abriga e alimenta milhares de seres vivos, na água que corre para o mar nas chuvas que regam os campos, no orvalho que cintila ao luar, nas grandes árvores que abrigam ninhos de passarinhos e que vergam a passagem dos ventos fortes, nos pequenos arbustos que escondem a caça do caçador...
Céus! Eu me vingaria se apenas uma de minhas partículas participasse do desabrochar de uma flor ou do canto de um pássaro. Romântico? Não! Foi o mundo, minha família, meu educador mas principalmente... foi o seio que aconchegou a criança que vinha lhe contar as suas tristezas, máguas, alegrias, pensamentos, e seus desejos íntimos... suas esperanças. A criança crescida quer voltar para lhe contar seus sofrimentos, desilusões, a morte de suas esperanças... para encontrar novamente o aconchego onde poderá descansar sua cabeça cansada e abatida e onde poderá, enfim, chorar as suas lágrimas que não encontram onde chorar.
Volto derrotada porque não fui capaz de viver, trabalhar e estudar não foram suficientes para mim. E foi tudo o que me restou. Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim.
Perdoem-me ..., ..., ..., "
" Volto derrotada porque não fui capaz de viver, trabalhar e estudar não foram suficientes para mim. E foi tudo o que me restou. Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim."
Sim, eu já havia pensado nisso. Eu trabalho, estudo, mas sou um protótipo de zumbi, mesmo que, acalme-se, eu não queira morrer fisicamente. O que nos faz morrer não é uma bala ou uma corda no pescoço, essa é a morte da carne que nada passa de um receptáculo para o que somos. O que nos faz morrer é não ter na vida a intensidade desejada, não ser em vida a tal flor que desabrocha em solo infértil.
Sendo assim, completo as palavras da minha companheira e formulo o meu próprio bilhete suicida:
(...)
Essa morte é mais dolorosa e cruel do que a carnal. Ela libertará o que em mim nunca foi livre.
Na ânsia por viver, e não mais por apenas sobreviver, eu me despeço dessa vida de auto-indulgências e incompletudes para ser intensa ao menos em uma coisa: na morte.
Sexo, Idade : F, 27
Cor : (descendente de orientais)
Meio : projétil de arma de fogo
Forma de mensagem : carta manuscrita a tinta azul
"A quem possa interessar:
Grande parte do que possuía foi vendida ou doada. O que resta, é minha vontade que seja entregue ao meu amigo João; o qual poderá dar a meus pertences o destino que lhe aprouver.
Nada deverá ser entregue a qualquer parente meu.
Quanto aos meus restos mortais, suplico encarecidamente; não o torturem com choros, rezas ou velas. É apenas a minha matéria e imploro que a deixem degradando-se em paz. A putrefação não é degradante. Se a humanidade permitisse que a natureza tomasse o seu curso, seria o renascimento da matéria.
Eu renasceria no vento que passa a murmurar, nas folhas que farfalham, no solo que abriga e alimenta milhares de seres vivos, na água que corre para o mar nas chuvas que regam os campos, no orvalho que cintila ao luar, nas grandes árvores que abrigam ninhos de passarinhos e que vergam a passagem dos ventos fortes, nos pequenos arbustos que escondem a caça do caçador...
Céus! Eu me vingaria se apenas uma de minhas partículas participasse do desabrochar de uma flor ou do canto de um pássaro. Romântico? Não! Foi o mundo, minha família, meu educador mas principalmente... foi o seio que aconchegou a criança que vinha lhe contar as suas tristezas, máguas, alegrias, pensamentos, e seus desejos íntimos... suas esperanças. A criança crescida quer voltar para lhe contar seus sofrimentos, desilusões, a morte de suas esperanças... para encontrar novamente o aconchego onde poderá descansar sua cabeça cansada e abatida e onde poderá, enfim, chorar as suas lágrimas que não encontram onde chorar.
Volto derrotada porque não fui capaz de viver, trabalhar e estudar não foram suficientes para mim. E foi tudo o que me restou. Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim.
Perdoem-me ..., ..., ..., "
" Volto derrotada porque não fui capaz de viver, trabalhar e estudar não foram suficientes para mim. E foi tudo o que me restou. Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim."
Sim, eu já havia pensado nisso. Eu trabalho, estudo, mas sou um protótipo de zumbi, mesmo que, acalme-se, eu não queira morrer fisicamente. O que nos faz morrer não é uma bala ou uma corda no pescoço, essa é a morte da carne que nada passa de um receptáculo para o que somos. O que nos faz morrer é não ter na vida a intensidade desejada, não ser em vida a tal flor que desabrocha em solo infértil.
Sendo assim, completo as palavras da minha companheira e formulo o meu próprio bilhete suicida:
(...)
Essa morte é mais dolorosa e cruel do que a carnal. Ela libertará o que em mim nunca foi livre.
Na ânsia por viver, e não mais por apenas sobreviver, eu me despeço dessa vida de auto-indulgências e incompletudes para ser intensa ao menos em uma coisa: na morte.
Wânyffer Araújo Monteiro
4 comentários:
Wan,
Há algum tempo nenhum texto conseguia mais me tocar. Sabe aquela sensação boa que a gente tem quando entende algo? Poisé, tive essa sensação boa, mas fiquei tão esmorecido... Essas palavras são fortes, me lembrou Virgínia Woolf em Mrs. Dalloway...
Eu, sinceramente, emudeci.
Resta-me agora soment fazer deste o meu bilhete.
Quanta sinceridade em linhas.
Tomar uma decisão, consciente, como mostra o texto não é fácil...
E não é algo que se quer.
è Fruto de tantas coisas...
" a morte dentro de mim..."
=/
nossa Wanzinha... me sinto meiuo que como o Danilo. E totaolmente sem palavras... aaain. Saudades suas moça. Muitas mesmo e apesar de eu não ter postado mais nada eu continuo sempre por aqui, viu??? Adoro seu blog... e a forma como escreve.Adoro você. Beijokas e espero que esteja tudo bem... mesmo com, o mundo estando tão louco.
Nesse caso, creio eu, a morte te serviu como um sopro de renovação de vida.
Pelo menos isso eu tive ao ler seu post.
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