quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

The greatest thing you'll ever learn is to love and be loved in return


Sentada neste lugar quente, minha alma congela. O suor que pinga na minha testa e escorre pelo rosto me serve de álibi para os sentimentos que destroem a pintura dos meus corredores vazios.

Minha respiração ofega pelas decobertas recentes e pára pelas lembranças passadas. Não é preciso ser um gênio para notar que dia após dia, tudo muda e nada volta a ser como era, mas é preciso ter fibra para admitir.

Dizem que “a vida é feita de escolhas”, mas há caminhos que você não pode escolher e abalam suas estruturas incomparavelmente fortes de um jeito que sua fortaleza torna-se indubitavelmente frágil.

Será possível alguém com sentimentos se acostumar com a dor da perda? A difícil e dolorosa perda que leva aqueles que dedicaram parte de sua vida a você, ou aqueles por quem daríamos a vida.

Pois venho fazer uma confissão, uma irônica confissão em tempos de internet, quando confissões perderam seu sentido inicial e passaram a ser publicadas em meios virtuais: Eu me acostumei.

Pode ser essa uma confissão prematura, tendo em vista a prematuridade da idade com qual a redijo e as perdas que ainda estão por vir, mas há uma gota de verdade ao olhar para trás.

Já perdi amigos e tios queridos e hoje faz exatamente 3 anos que uma das pessoas mais importantes da minha curta vida se foi e quando ela se foi, tudo que fui também se foi.

Tive perdas antes, sim, tive. Uma bem traumática, outras simplesmnete doloridas, outras pouco sentidas. Tive perdas depois. Depois... As perdas de depois não me furtaram uma lágrima sequer desses olhos de luz, só o transformaram em olhos de trevas, entretanto minha alma, essa sim chorava por dentro e gritava para ser ouvida através de meios físicos e externos, mas nada adiantou.

Hoje, minha alma chora. Chora pelo luto aniversariante, pelos que não chorei e por aqueles que se foram quando meu coração estava inteiro. Chora pelo estado de saúde grave de pessoas que dedicaram a vida a mim. E é lembrando deste último que reitero minha confissão: Não me acostumei totalmente. O externalização não torna nada mais real. Eu ainda não sou uma causa perdida.

O que dizer mais? Hoje, ela chora.

Amanhã ela se cala.

Depois, ela se refaz.

É preciso temer pessoas sofridas, pois elas sabem que podem sobreviver.



Texto que escrevi há exatos dois anos sobre este dia, quem sabe possam entender um pouco do que essa mulher foi:

Ela sentava na sua velha cadeira olhando para o céu como se um dia quisesse fazer parte dele. Quem sabe uma estrela brilhante,discreta como fora durante toda sua longa vida. Os cabelos grisalhos caídos nos ombros. A pele enrugada sobre o corpo magro. O vestido bordado e sujo pela fumaça do fogão.
A aparência frágil escondia uma mulher forte que criara quatro filhos,sete netos e uma bisneta como uma leoa protetora e feroz. Que mulher! O sofrimento estampado em cada linha de expressão não negava suas origens. Entretanto, tudo que aquela senhora queria era tornar-se uma estrela e cuidar de suas crianças.
E ela olhava para o céu com aqueles olhos tristes, melancólicos, com o semblante de alguém que pede clemência pela sua dor. Uma dor que parecia não ter fim. Não doía apenas no corpo, mas principalmente na alma e no orgulho de mulher guerreira.
Os anos foram passando. Ela foi decaindo. Aos poucos não andava, pouco falava, perdia os movimentos, a caveira aparecia assustadoramente embaixo da pele sem visco. O sorriso se foi, apenas o olhar continuava o mesmo; abatido.
E assim permaneceu por alguns anos até que se foi como um passarinho: silenciosa e serena. O sorriso, antes ofuscado, voltou a brilhar. E, hoje, ilumina um pedacinho do céu. Brilha singela dentro de mim.


Te amo, vovó.

W.A.M.

Um comentário:

Tiago Marques disse...

Poxa wan... que texto lindo.

=*