quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um longo dezembro




Dezembro tem um quê de desgosto, de desejos que ficaram pelo caminho e talvez possam ser supridos a partir do "próximo mês". É tempo de arrependimentos e arrebatamentos. De olhar para trás como se possível fosse resumir 365 dias em um único sentimento sobressalente.


O impasse está em conseguir e o erro está em fazê-lo. Em um ano muito pode mudar tanto quanto você pode continuar estagnado no mesmo lugar. É um misto de sentimentos. Alegrias que, apesar de dividirem o mesmo nome, foram causadas por diferentes fatos.rTRristezas uqe fizeram chorar, calar, engrandecer, ou morrer mais um pouquinho por dentro.


Em dezembro tudo pode ficar mais claro ou negro como o ébano. Você pode se arrepender das palavras mal colocadas e gestos incompreendidos. São trinta e um dias de auto-conhecimento.


Esse é um mês misterioso. Nunca se sabe que sentimentos irão emanar de seus pensamentos, às vezes é melhor até proibir-se de pensar, afinal em dezembro passado isso o fez ficar mal... Só que nenhum dezembro é como o outro.


O tempo é de renovação. É de enumerar os erros, coloca-los sobre a mesa e destrui-los para que eles não se repitam. O mesmo deveria ser feito com as alegrias. Os sorrisos divididos, as vezes nas quais alguém confiou em você, os chocolates que comeu, a felicidade que proporcionou... Agora é coloca-los na estante e deixá-los lá sempre lembrados com carinho, mas deixando viver novos bons momentos no ano vindouro.


O ano passado é passado e nenhum erro ou nenhuma alegria é idêntica a outra. Dezembro proporciona diversas emoções porque todas resolvem reaparecer no final para dizer um "adeus" ou um "até breve". A única que permanece é a esperança de que em janeiro comece uma nova era na qual a vida possa ser medida em amor.





W.A.M.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Toc-toc

Não adianta sair para procurar a felicidade. Para achá-la, tem que entrar.
Entrar em si. É dentro de você que ela deve estar.
Dorminhoca, preguiçosa, hibernando a espera do verão.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Rise up this morning smiling with the rising sun

A menina dormiu com a lua
O sol matutino traria a certeza de uma nova era
e as próximas estrelas mal poderiam esperar pela mulher que chegaria




quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Será?

Que graça teria uma vida de certezas?
A única certeza da vida é mórbida. São as dúvidas que fazem viver.
Durmo sem saber se ainda acordo. Acordo com a certeza de que ser feliz é estar vivo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Palavras destruídas


A névoa branca encobria as luzes de natal e deixava o fim de tarde com o aspecto da derradeira hora da noite. O frio congelava os ossos quase impedindo os transeuntes de locomoverem-se. Os joelhos de Johnantan ardiam em dor, mas caminhar era necessário. Ele tinha um propósito, um ponto de chegada que prometia acalentar seus pensamentos. No caminho, as calçadas úmidas e rachadas tornavam-se obstáculos insistentes em derrubar os fracos corpos que se assemelhavam a zumbis a beira de um apocalipse.


Após tropeços Johnantan avistou um prédio ainda turvo ao longe. Era alto e de um cinza antigo e sem brilho que, nas extremidades adornadas com gárgulas assustadoramente esculpidas, se tornava mais escuro, quase negro. No topo da torre principal, um vitral quebrado deixava ainda intacto o rosto de um homem taciturno, curvado sobre um livro à cabeceira de uma escrivaninha como se o amigo de grossa capa fosse o único permitido a ultrapassar a introspecção de seus pensamentos. "Baudelaire" - pensou ele. Sim, Charles Baudelaire com um enorme buraco no meio da cabeça calva.


Abaixo, a gigantesca porta de madeira afugentava forasteiros que não entendessem o valor do que ela resguardava. Apesar da aparência de algum lugar que facilmente poderia ter sido arquitetado por Bram Stoker, aquele prédio, em seu gélido invólucro, oferecia abrigo a Johnantan.


De dentro do casaco marrom, amarelado pelo tempo que ficou guardado durante o verão, ele tirou a chave. Maior do que as comuns, do que aquelas que ele mesmo carregava e perteciam ao seu apartamento. Era trabalhada com rococós, feita de metal preto fosco, perfeita para a fechadura da pesada porta. Uma vez dentro, o frio foi embora como se fosse afugentado pelo espírito de algum curumim de cabeleira flamejante.


A iluminação escassa foi reforçada pela lamparina acesa. E assim, dispondo-a perto da face, pôde contemplar o tesouro mais precioso que o Baudelaire depredado guardava dia após dia: a maior coleção de livros que aquela cidade vira.


A biblioteca municipal estava há muito abandonada. Não sabia se pela aparência tenebrosa, pelo descuido com os livros, ou se a população preferia lê-los online em seus e-books modernos. O fato é que estava a mercê das traças. Estas detruíam diariamente pelo menos dez palavras de cada publicação que outrora levara alguém em uma viagem por suas páginas. Dezenas de estantes abrigavam milhares de clássicos abandonados.


Johnantan, o antigo bibliotecário, gostava de passar as noites ali, lendo histórias repletas de aventuras e lendo, principalmente, as dedicatórias no início de cada exemplar doado. Em um deles, uma em especial era lida todos os dias:


"Que as brumas lhe guiem até este santuário nas noites de frio. Aqui está todo o calor que sua alma precisa".



W.A.M.