terça-feira, 24 de novembro de 2009

Esperando o inesperado


Sozinha, em uma noite qualquer, sento na poltrona da qual não é possível ver a lua. A única luz que invade a janela vem da artificial fonte no alto do poste cinza.
Ninguém estava em casa, além de todas aquelas pessoas de diferentes sentimentos que compõem o meu eu e que já não mais reconhecia. A fim de curtir o lirismo abundante que acometia aquela casa cinza de pedras frias, fiz um tal chocolate que dizem que quando quente, aquece a alma.
Sentada, roupas de trabalho, pés descalços, esperei. Esperei a lua apontar na janela a fim de vê-la pontuda ou cheia e vibrante. Esperei não ver mais nuvens ou o cinza das residências lá fora. Não, não esperava a lua somente. Esperava, simplesmente. Algo que chegaria sem pedir licença e sem ter cerimônia alguma. Esperava algo que sabia que não chegaria.
Lá fora, o dia nublado não dava nem a alegria simples da chuva que tiraria a poeira daquele cinza. Ou mesmo que poderia trazer o inesperado esperado - ou seria esperado inesperado? - de alguma forma inexplicável.
Os olhos já fechavam em um surto narcoléptico provocado pelo cansaço dos pés latejantes e do coração apático. O esperado inesperado chegou de mansinho, silencioso. Observou por um momento e deixou um recado. Não, não um recado, um sinal.
Ao acordar, mesmo que chovesse torrencialmente, era possível ver a lua circunscrita no céu anil.

W.A.M.

Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio. - Caio Fernando Abreu

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